Sociedade

Acessibilidade e inclusão: assuntos que devem ser tratados como prioridade

Photo by Chrystal Smith Warriors in Transition members scramble for the loose rebound during a session of Wheelchair Basketball June 22 at the Wiesbaden Fitness Center at Clay Kaserne.
Por Lucas Carvalho

Um acidente automobilístico no bairro do Rio Vermelho, em Florianópolis – SC, alterou os planos na vida de Augusto Piazza. Aos 23 anos, o gaúcho radicado em Santa Catarina viu o chão se abrir ao perceber que havia ficado tetraplégico (sofreu lesão completa na medula espinhal, entre as vértebras C5 e C6). Após um longo período de recuperação – com dois dias em coma -, deu continuidade aos planos que tinha antes do acidente. Uma das primeiras atitudes foi se formar em Administração.

Ao mundo, mostrou que estar na cadeira de rodas não o impedia de se destacar no meio profissional. Foi chefe da Auditoria Geral do Estado de Santa Catarina por oito anos. “Foi um período de muito aprendizado e crescimento pessoal e profissional, pois recebi o desafio de comandar cerca de 60 auditores e mais algumas pessoas do time. Além disso, tive a missão de controlar e direcionar, de maneira correta, gastos públicos que giravam em torno de 20 bilhões anuais. Ou seja, era um trabalho de grande responsabilidade, porém, foi uma experiência muito bacana que serviu para mostrar que apesar da minha limitação física, a competência se sobressai”, relata Augusto.

 Augusto Piazza durante palestra motivacional (Foto: Arquivo Pessoal)

Tudo que Piazza realizou e conquistou vai contra o termo “capacitismo”, que está em evidência e vem sendo bastante criticado, pois significa diminuir e discriminar a pessoa com deficiência, seja com preconceito ou por achar que o indivíduo não é capaz de fazer algo por conta da deficiência. Isso fica muito evidente em atitudes como se referir às pessoas sem deficiência como “normais”, estacionar na vaga destinada aos cadeirantes e dizer que “foi só por 5 minutinhos”, lidar com a pessoa com deficiência como se fosse “coitadinha” ou infantiliza-lás.

As pessoas com deficiência (PCDs) se deparam com várias dificuldades por causa da falta de acessibilidade. O país ainda está muito longe se comparado com outros no quesito da inclusão e, mesmo existindo várias leis que garantem os direitos desses indivíduos, o que se vê na sociedade brasileira em geral é o descaso das autoridades e muitos episódios de desrespeito com as pessoas com deficiência.

O desafio da inclusão fica em destaque quando vemos a presença dos deficientes no mercado de trabalho. Menos de 1% do total de pessoas com deficiência com idade para trabalhar estão empregadas.

 

Fonte: Ministério do Trabalho - RAIS (Relação Anual de Informações Sociais)

Depois do exemplo de sucesso de Augusto, é legal destacar os atletas paralímpicos, que desmentem o que o capacitismo prega e se superam diariamente, obtendo desempenhos melhores que os de atletas olímpicos em algumas ocasiões.

Um desses atletas é Guilherme Costa, de 28 anos, que integra a seleção brasileira paralímpica de tênis de mesa e já ganhou muitas medalhas em etapas do circuito mundial. Guilherme, que é cadeirante, já rodou o mundo com o tênis de mesa e comparou a realidade do Brasil e a de países europeus. “Conheci mais de 18 países por estar na seleção brasileira e os dois que mais me surpreenderam e que tenho como referência quando o assunto é acessibilidade são Estados Unidos e Alemanha. Em lugares como a Disney e um shopping na Alemanha não existem filas preferenciais, diferentemente do Brasil, porque lá você tem acesso aos brinquedos totalmente acessíveis, caixas feitos para atender cadeirantes, entre outros. E, por mais que seja legal passar na frente da fila (risos), achei muito interessante o fato de o local como um todo conseguir comportar e incluir as pessoas com deficiência”, analisa Guilherme.

 

 Guilherme Costa em passeio turístico na Alemanha (Arquivo pessoal)

Em vídeo, Guilherme Costa compara a realidade de onde vive com a de outros países que já viajou:

Acessibilidade no Brasil

Um exemplo de espaço que dá às pessoas com deficiência as condições para elas exercerem todas as suas potencialidades é o Centro Paralímpico Brasileiro (CPB), construído em 2016 e considerado um dos melhores centros de treinamentos do mundo. Lá existem espaços para a prática de: atletismo, basquete, esgrima, rúgbi e tênis em cadeira de rodas, bocha (o jogador tem como objetivo encostar o maior número de bolas na bola alvo), natação, futebol de 5 (para cegos), futebol de 7 (para paralisados cerebrais), goalball (cada equipe coloca três jogadores em quadra, todos vendados. Em cada extremidade existe um gol com a mesma largura da quadra – o objetivo dos jogadores é lançar bolas para dentro da rede oposta), halterofilismo, judô, triatlo, vôlei sentado e o tênis de mesa.

Crédito: Roberto Castro/ brasil2016.gov.br

A principal cidade brasileira modelo em acessibilidade é Uberlândia, no interior de Minas Gerais. E, mesmo não sendo uma cidade grande (só tem cerca de 600 mil habitantes!), é referência no Brasil. Uberlândia tem rampas de acesso nas principais ruas do centro e nos bairros, 100% da frota de ônibus com elevadores para quem tem limitação na locomoção e piso tátil para orientar deficientes visuais nas calçadas, nos terminais rodoviários, na maioria das lojas e prédios públicos. A gente tem que realçar que, em 2010, Uberlândia foi considerada uma das 100 cidades mais acessíveis do mundo pela ONU.

 Campanha promovendo a acessibilidade em Uberlândia (Foto: Prefeitura de Uberlândia)

Cidades modelo no mundo

Fora do Brasil, um grande exemplo é Barcelona, na Espanha, que, depois de sediar as Paralimpíadas de 1992, viu a necessidade de se tornar uma cidade acessível. Atualmente, bares, restaurantes, praças e diversos pontos turísticos têm acesso facilitado (incluindo um passeio pela cidade em um ônibus de dois
andares com rampa automática).

Outra cidade que é um exemplo quando o assunto é acessibilidade é Berlim, que recebeu da Comissão Europeia e do Fórum Europeu de Deficiência o prêmio Cidade Acessível, em 2013. A capital alemã se destacou por ter a maior parte de suas estações de metrô e pontos turísticos adaptados, como obras de
arte que podem ser tocadas para que pessoas com deficiência possam sentir a peça e os detalhes propostos pelo artista.

 Exemplo de acessibilidade em Berlim (Foto: Acessibilidade no Pergamoun museum/ Divulgação)

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Raíssa

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Sobre O Berro

Berro é a revista dos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Tem uma edição semestral, vinculada à disciplina de Redação Multimídia.

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