Por Lucas Carvalho
A educação alimentar é um tema tratado com muita importância nos últimos anos. É uma questão que deveria ser do interesse de todos, já que uma melhor qualidade na alimentação é essencial para a saúde humana e benéfica em outros aspectos e está ligada diretamente ao controle e combate de várias doenças, promovendo o bem estar do corpo e, de quebra, auxiliando em aspectos relacionados ao planeta Terra, no cuidado com o meio ambiente.
A nutricionista Mariana Fagundes, natural de Itatiba, no interior paulista, formada na Unicamp – SP, escolheu promover mais políticas públicas, práticas coletivas de promoção de saúde (como rotulagem nutricional nos produtos alimentícios) e ações programas (como o Programa de Alimentação Escolar). “A infância é um período crítico para a formação dos hábitos alimentares saudáveis que podem continuar pela vida toda. Assim, a educação alimentar nas escolas é necessária para as crianças aprenderem desde cedo o valor de uma boa alimentação, prevenindo o surgimento de doenças associadas à alimentação em outras fases da vida. Além disso, contribui para o maior entendimento da cadeia alimentar produtiva, auxiliando no menor desperdício de alimentos, no cultivo de hortas e trazendo a conscientização sobre evitar alimentos processados”, explica Mariana.
Exemplo de educação alimentar realizada desde a infância. Crédito: Thinkstock
Outro ponto destacado pela nutricionista é a quantidade de problemas que uma má alimentação pode trazer. “Lido com vários tipos de pacientes e as principais doenças que estão ligadas à uma má educação alimentar são as crônicas não transmissíveis (como hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares), obesidade e até alguns tipos de câncer. Ou seja, a boa alimentação está totalmente ligada à prevenção dessas doenças e, consequentemente, a busca de uma maior longevidade e melhor qualidade de vida por parte dos pacientes”.
Algo que é nítido se observarmos de que maneiras as pessoas se alimentam é que seguir uma alimentação saudável é uma questão de escolha. Gabriel Berardo, estudante de Direito, e Paulo Vasquez, estudante de Medicina, foram colegas de classe por vários anos na época de escola e, mesmo recebendo informações similares acerca da importância de uma boa alimentação, seguiram caminhos diferentes. “Meu maior problema é na quantidade de comida. Como de tudo, seja saudável ou não, pois o ato de comer me traz um prazer imenso. Tentei seguir dietas algumas vezes, mas não consigo dar prosseguimento ao planejamento, pois acabo não resistindo. Até porque não como para viver, vivo para comer”, conta Gabriel. Já Paulo começou a ter uma alimentação mais regrada a partir de 2018 e, após perceber os benefícios, passou a encarar como um estilo de vida. “Comecei a me alimentar melhor por questão de estética, mas depois me informei mais sobre o assunto e vi a quantidade de melhorias que isso pode trazer para a minha saúde. Tenho avô diabético e pai hipertenso e obeso, ou seja, estou mais propenso a ter essas doenças no futuro. No entanto, ao me alimentar de maneira correta, consigo diminuir as chances de ter algum desses distúrbios e prolongar meu bem estar por muito tempo”, explica Paulo.
Comida e meio ambiente
A importância da educação alimentar não fica restrita apenas à saúde humana, pois também contribui diretamente para a preservação do meio ambiente. Isso porque uma alimentação saudável inclui conhecer a origem e procedência do alimento, dando prioridade à agricultura familiar e evitando alimentos ultraprocessados, conhecidos pelas suas altas quantidades de açúcar, sal e gordura, produzidos sem se importar com a saúde da população.
Exemplo de núcleo familiar dedicado à prática da agricultura. Foto: Divulgação/Arquivo CNA Brasil
Essa forma de agricultura é feita por pequenos produtores rurais (normalmente por trabalhadores do mesmo núcleo familiar) e, de acordo com a ONU, 80% da produção alimentar mundial é realizada dessa maneira. No Brasil, esse número cai para 70%, o que ainda é bastante. A prática envolve técnicas de cultivo e extrativismo advindos do conhecimento popular, tendo como característica marcante o baixo impacto ambiental. A agricultura familiar é parceira da sustentabilidade e da responsabilidade socioambiental, produzindo vários alimentos orgânicos.
Francisca Carliene de Lima trabalha com agricultura familiar em Palhano, interior do Ceará. Os principais produtos plantados e comercializados por ela e sua família são a farinha de mandioca, o milho, o feijão, a cerca de carnaúba e o mel de abelha. “A agricultura familiar é de fundamental importância pois planta uma diversidade de alimentos para o consumo da população e fundamental para a nossa geração de renda. Além disso, causa um menor impacto ambiental, porque esse tipo de agricultura usa o policultivo que sofre um menor ataque de pragas e doenças, promovendo a redução no uso de agrotóxicos”, explica Francisca.
Na contramão do que foi dito, sofremos com o uso excessivo de agrotóxicos e o desmatamento para a produção de produtos (como a soja), causando enorme prejuízo ambiental. Somado a isso, enfrentamos a poluição e a degradação do solo que estão sendo causadas pela intensa atividade do agronegócio, afetando negativamente o ambiente.
O governo do Brasil vem atuando com projetos para ajudar as famílias que habitam o campo, visando diminuir os impactos causados pelo agronegócio, melhorar a qualidade de vida dos habitantes e dos produtos cultivados em menor escala. Os programas que se destacam são: PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o Programa Garantia Safra. “Esses projetos são muito importantes para nós. O PRONAF é essencial por ser um programa de crédito para os pequenos agricultores; o PNAE é um programa que o governo se compromete a adquirir uma certa quantidade de alimentos, dando garantia de renda a nós; e o Garantia Safra fornece um auxílio quando o produtor está em situação difícil após períodos de seca”, destaca Francisca.
A educação alimentar no esporte
Uma série de fatores contribuem para o desenvolvimento de um atleta de alto rendimento. Além da técnica apurada, da tática, do psicológico e da parte física, para os esportistas que buscam a evolução constante, faz-se necessário ter uma alimentação saudável e bastante regrada. O suporte de um profissional da área de nutrição é de extrema importância e acaba sendo um diferencial na preparação de atletas dos mais variados esportes para suas competições.
Lucas Grilo (esquerda) e Paulo Henrique (segundo do lado direito) no Parapan Juvenil de 2017. (Crédito: Arquivo Pessoal)
Lucas Grilo, de 22 anos, e Paulo Henrique Gonçalves, de 19 anos, são atletas da seleção brasileira sub-23 de tênis de mesa paralímpico e fazem parte do programa “Diamantes do Futuro”, promovido pela confederação da modalidade para lapidar os jovens atletas, dando apoio e fornecendo uma equipe multidisciplinar para os mesatenistas, incluindo consultas com um nutricionista.
“Desde que comecei o acompanhamento nutricional notei melhoras nas noites de sono e tenho mais disposição nas horas de treino e torneios. Outro ponto foi evitar lesões, me deixando sempre apto a desempenhar o meu máximo nas competições que tive”, afirma Lucas. Já Paulo observou melhora no cansaço, diminuindo as fadigas que tinha após o treino. “Noto que quando como alguma comida que não seja saudável no domingo, rendo um pouco menos do que o normal. Mas nos dias que me alimento de acordo com o que o nutricionista passa, consigo perceber uma melhora no rendimento e fico mais disposto”, acrescenta o atleta.
O encarregado de orientar os paratletas e ajudá-los a melhorar a educação alimentar é Daniel Paduan, nutricionista do Comitê Paralímpico Brasileiro, com vasta experiência em competições do mais alto nível, tendo acompanhado atletas como o nadador multicampeão Daniel Dias, dono de 24 medalhas paralímpicas (14 de ouro) e Verônica Hipólito, campeã mundial dos 200m rasos no atletismo.
Mesmo sendo bastante gabaritado no assunto em questão, Paduan afirma que os principais responsáveis pelo sucesso são os atletas. “Apesar de eu ter a missão de cuidar da alimentação dos atletas e guiá-los para uma melhor educação alimentar, eles que precisam usar esses ensinamentos em suas rotinas, pois de nada adianta falar uma coisa na consulta e fazer outra no dia a dia. Os que compreendem e seguem o plano traçado acabam tendo um diferencial em relação aos demais, tendo melhores resultados e diminuindo o risco de lesões”, explica o nutricionista.
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