Connect with us

Hi, what are you looking for?

Comportamento

Covid-19: racismo estrutural é tão letal quanto o vírus

Não houve, até o momento, uma pandemia que coloca em risco a vida humana e agrava desigualdades raciais como a da Covid-19. Em desvantagens sociais, as pessoas negras são as que mais sofrem com a maior crise sanitária das últimas décadas. Isso, por causa do racismo estrutural que as põe em situação inferior aos brancos em diversos aspectos. Fatores como acesso desigual a sistemas de saúde, moradia precária e impossibilidade de aderir ao isolamento social fazem a população não-branca sofrer mais com os impactos da Covid-19, no Brasil.

A transmissão da doença ocorre mais facilmente quando há um maior número de pessoas por cômodo domiciliar, privação ou má qualidade da água potável e baixa escolaridade. “Esses fatores estão diretamente ligados às condições de vida e a chamada determinação social da Covid”, explica Itamar Lages, professor e pesquisador da área de saúde da Universidade de Pernambuco (UPE). O docente defende que questões sociais e econômicas se unem ao fator biológico como força determinante até as pessoas contraírem o vírus.

Os cidadãos com mais escolaridade se interessam por saber sobre a doença e adotam prontamente as medidas protetivas implementadas pelas autoridades sanitárias. Por outro lado, a boa condição econômica permite melhor qualidade de vida, de acordo com Lages. O analfabetismo, no Brasil, atinge mais de duas vezes a população negra do que a branca, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E 32,9% desse público vive abaixo da linha de pobreza, com menos de US$5,50 por dia; contra 15,4% da população branca que se encontra em situação semelhante.

Segundo Itamar Lages, não há nenhuma anomalia no corpo negro que o faça ser mais suscetível ao novo coronavírus, mas a situação socioeconômica em que está inserido. Em relação à renda, são as mulheres negras seguido dos homens negros, que ocupam a base da pirâmide social. A mesma pesquisa mostra que a taxa de desemprego aponta maior desvantagem para os negros, 64,2%, do que entre os não-negros, 34,6%. E das mulheres pretas e pardas, 47,8% trabalham informalmente, contra 34,7% das mulheres brancas. Com rendimento médio mensal de R$1050,00 e R$1.814,00, respectivamente.

Lages aponta a Política Nacional de Saúde da População Negra, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), como medida assistencial eficaz para as pessoas negras. No entanto, desde a criação, falta uma definição de recursos para que ela se desenvolva integralmente. Lages lembra que a Prefeitura de Olinda, alguns anos atrás, monitorou um grupo de pessoas negras diagnosticadas com diabetes falciforme. Através do experimento, essa política foi adotada pelo município, e contou com apoio de representantes da comunidade negra.

O pesquisador lamenta a falta de investimento na Política de Atenção Básica, por meio da Emenda Constitucional 95, em vigor desde 2016, no então Governo Dilma Rousseff (PT). Em Pernambuco, por exemplo, 58,2% da população é preta e parda. A cobertura de Saúde da Família, nos municípios pernambucanos, alcança pouco mais de 50% desse público, conforme calcula Itamar Lages. O ideal seria assistir, no mínimo, 70% dos pernambucanos e pernambucanas negras. Assim, os riscos de contaminação seriam diminuídos e a vida dos pretos e pardos preservada.   

“A vida do negro também importa”

Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You May Also Like

Política

Você já parou para observar o número de representantes negros nos espaços de poder em Pernambuco? A baixa presença de pessoas negras na política,...

Cultura

Você que navega na internet certamente já deve ter ouvido falar de “Torto Arado”, livro que uniu sucesso comercial com prestígio literário e foi...

Cultura

A arte e suas manifestações estão em tudo que enxergamos, escutamos, cheiramos e tocamos. Afinal, ela é um dos maiores meios de expressão humana,...

Educação

Apesar de parecer uma pergunta aparentemente simples, a resposta não é. Essa é uma questão divergente até entre as pessoas que as representam. Na...

ORIENTAÇÃO: Carolina Monteiro e Eduarda Andrade | EDIÇÃO: Ariel Sobral, Artur Freire, Carolina Monteiro, Eduarda Andrade e Julliana Brito | REPÓRTERES: Ana Beatriz Venceslau,Danielle Santana, Flávia de Oliveira, Isabela Aguiar, Lourenço Gadelha, Maria Clara Ferreira, Pedro Pequeno e Yuri Euzébio | DESIGN: Jota Bosco | Copyright © 2021 Universidade Católica de Pernambuco