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Cultura

Nem preto, nem branco. pardo?

Matheus Viana/Pexels

“Morena bronzeada, cor de jambo (…) nunca tive nenhum diagnóstico de quem eu sou”, relata a estudante Joyce Lacerda, de 24 anos. Ela não é a única a se sentir assim. No Brasil, grande parte da população ainda encontra dificuldades para definir sua etnia utilizando os critérios estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que separa os brasileiros em cinco tipos: brancos, pretos, pardos, amarelos ou indígenas.

Por definição, o termo pardo descreve quem possui uma cor de pele “branca escurecida, entre o amarelo e o marrom-escuro”. De acordo com a pesquisa PNAD Contínua, realizada no ano de 2019, essa foi a classificação escolhida por 46,8% dos brasileiros. No entanto, a predominância da escolha de um suposto “meio-termo”, pode ser o indicativo de uma problemática maior: o não pertencimento. 

Joyce Lacerda

O TERMO: PARDO

O termo pardo ainda preserva o pensamento racista enraizado na cultura brasileira. Utilizada pela primeira vez em 1872, a classificação foi substituída pelo termo “mestiço” em 1890. De acordo com o IBGE, naquele momento, o país sofria com um forte predomínio das doutrinas racistas.

Os traços aparentes, o fenótipo, de 1872, dão lugar à ideia de misturas, de mestiçagem de raças na classificação pós-abolição da escravatura, com uma classificação racial de forte conteúdo hierárquico do mundo social, a mestiçagem é promovida a categoria, assumindo o sentido atribuído pelo branqueamento, qual seja o de diluição do sangue negro no cruzamento com os contingentes migratórios, que levaria ao gradual desaparecimento dessa população”.

Ainda segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o projeto de branqueamento instituiu o encontro de “três raças fundadoras da população brasileira: brancos, amarelos e pardos”, negando a existência de negros e indígenas. Sendo o pardo visto apenas como uma “etapa para a conquista do embranquecimento” do país. No Brasil, pardos são aqueles que não se encontram em nenhum dos extremos, que são vistos como pretos demais para ser brancos ou brancos demais para ser pretos.

A mestranda em Letras Ana Beatriz Almeida, de 24 anos, relata sua experiência até se descobrir como negra: 

Ana Beatriz Almeida

O processo de autoconhecimento relatado por Ana Beatriz também é vivenciado por parte dos brasileiros. Entre 2012 e 2019, o número de pessoas que se autodeclararam como pretas ou pardas aumentou no país, enquanto o número de autodeclarados brancos diminuiu. 

O movimento pode ter ligação com o crescimento da chamada consciência racial, termo utilizado para definir o processo de descolonização e recusa da internalização da inferioridade racial que o racismo prega de forma incansável, de acordo com a filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro, Sueli Carneiro.

O NEGRO, PARA O BRASIL

No entanto, é preciso ressaltar que, apesar do aumento da discussão sobre colorismo no Brasil e das definições estabelecidas oficialmente, o racismo parece saber definir sem dúvidas quem é negro ou não. A história contada pelo estudante Alexsandro Nascimento, de 24 anos, é um exemplo de como o preconceito ultrapassa essas diferenciações.

Alexsandro Nascimento

Ultrapassando as definições, a problemática traz reflexos no cotidiano e está presente no Brasil há mais de 100 anos, não parecendo estar perto de uma resolução. Para além de pensar os termos, é preciso entender como eles surgiram, se modificaram ou se consolidaram em nosso país.

A predominância do termo pardo na maioria das análises censitárias realizadas no país indica o porquê da preferência pela definição pela maioria dos brasileiros até hoje. Porém, o processo lento, porém constante, de mudança por essa escola, sinaliza para uma alteração desse pensamento.

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