Beatriz Paixão: da Periferia para o mundo

Por Vanessa Morais

Beatriz Paixão Vicente da Silva, moradora do bairro da Iputinga, nasceu no Hospital Barão de Lucena em 4 de junho de 1998, no Recife. O futebol entrou na vida de Beatriz ainda pequena. Filha de Edmilson Vicente e Janaina Paixão, a caçula da família, Beatriz tem um irmão mais velho, Renato Paixão. Sempre apaixonada pelo futebol, começou a jogar ainda aos seis anos de idade acompanhada dos meninos que moravam no bairro.

Sempre quis ser jogadora de futebol desde pequena, foi bastante difícil. O futebol feminino não possui muitas oportunidades“, disse Beatriz.

Apesar do passar dos anos, o futebol feminino não evoluiu muito. A grande gama de desigualdade, sexismo, machismo e preconceito ainda é perpetuada no mundo do futebol. Beatriz é apenas uma das muitas jogadoras que sofrem em campo por estes motivos.

Beatriz Paixão – Arquivo Pessoal

Segundo pesquisas, os anos de 1908 e 1909 foram cruciais para a mulher conquistar seu lugar no mundo do futebol. Conforme o Jornal da USP, houve a criação de um decreto de lei no qual proibiam as mulheres de jogarem futebol, com a justificativa de que aquele esporte era incompatível com a sua natureza. A desvalorização com o futebol feminino no Brasil é cada vez mais evidente. Em comparativo, a diferença dos salários no qual as jogadoras e os jogadores recebem, com acréscimo dos patrocínios por causa da visibilidade midiática, a diferença é abismal. Beatriz opinou a respeito da situação que o futebol feminino se encontra.

Na minha opinião, para mudar um pouco o cenário do futebol feminino é preciso mais visibilidade, ter um olhar mais atento e dar mais oportunidades. Acredito que com isso, haveria uma grande diferença“, opinou Paixão.

Beatriz Paixão – Arquivo Pessoal

A desigualdade existente entre o futebol feminino e o masculino está cada vez mais evidente. Em uma pesquisa realizada pela Agência Pública, em 2016, foi constatada uma diferença de salário existente entre a jogadora Marta e o jogador Neymar. A atleta estava ganhando US $400 mil, contra US $14,5 milhões de Neymar Júnior. A jogadora do Náutico, Beatriz Paixão, comentou sobre a discrepância salarial.

Existe uma enorme diferença quando é uma menina que quer ser jogadora de futebol e não um menino. A valorização está em níveis diferentes entre o futebol masculino e o feminino. Infelizmente o nosso é pouco valorizado“, disse Beatriz.

A jogadora, em sua fala, discutiu sobre a visibilidade do futebol de periferia e a importância do futebol para as crianças e adolescentes da periferia.

Para quem é da favela e deseja ser jogadora de futebol, a maior dificuldade é a visibilidade que é muito baixa. O acesso ao futebol para crianças e adolescentes da periferia é de suma importância. Em minha opinião, evita que entrem na vida errada, como por exemplo, ingressar na criminalidade. O futebol é uma distração e benéfico para quem vive na periferia. Esse esporte mudou muita coisa na minha vida não só financeiramente, mas em minha rotina e, principalmente, nas minhas amizades.”

Beatriz Paixão – Arquivo Pessoal

Beatriz Paixão está no Náutico há dois anos. O convite foi feito durante uma partida de futsal. Por causa das suas habilidades futebolíticas, foi notada por um olheiro que estava sentado na arquibancada. Após o término do jogo, foi informada da seletiva e conseguiu integrar ao time. Paixão, que já participou de dois campeonatos, revelou que sua rotina é baseada em bastante treino diurnamente. Pela noite, descansa para repor suas energias. Apesar de tantos anos se passarem desde o primeiro jogo de futebol feminino no Brasil, o preconceito contra mulheres que escolhem ser jogadoras ainda é constante.

Enfrentei bastante dificuldades no futebol, principalmente devido ao machismo. Falam coisas que não convém, por exemplo, que o futebol não é para mulher ou até que a mulher não nasceu para jogar futebol. Das minhas companheiras de time e da comissão técnica nunca sofri nenhum preconceito, apenas quando jogava futebol de rua em minha periferia. As pessoas sempre passavam e soltavam algumas frases inconvenientes”, Beatriz ainda complementa sua fala falando do apoio que recebe. “Minha mãe, meu irmão e meu padrasto me apoiam muito no futebol e sou eternamente grata por isso. Sabemos que o apoio é fundamental e muitas não possuem. Infelizmente“, conclui.

Time feminino do Clube Náutico Capirabibe – Arquivo Pessoal

Demonstrando cada vez mais sua paixão pelo esporte, a atleta cultivou interesse pela área da Educação Física. Jogadora nata, possui como uma das suas inspirações a jogadora de futebol feminino Marta, especialmente por ser oriunda dos ambientes periféricos. Beatriz finalizou a entrevista expressando o seu maior desejo no futebol. Por fim, deixou um recado para todas as meninas que um dia sonham em jogar futebol profissional.

Como jogadora de futebol, o meu desejo é jogar na seleção, ser campeã brasileira e conquistar a vaga para o A2. Deixando um conselho para as garotas que querem ser jogadoras de futebol, é que não desistam. Mesmo sendo bastante difícil ser reconhecida pelo futebol feminino, não desanimem. O quanto puder fazer para realizar esse sonho, faça!”, concluiu.

Edição: Matheus Emiliano