Tecnologia e conexão virtual: a realidade aumentada de nossas vidas*

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O futuro das interações humanas com a cada vez mais presente IA.

Imagem criada por IA: Input – “Relações humanas sendo consumidas por energias”. Imagem: DALL-E/Canva.

Telas acesas, notificações chegando a cada passo do tempo. Informações circulando em uma velocidade frenética, registros através de fotos e vídeos de onde se está e o que está comendo. Foto do look, do filme, do cachorro, da família. O sorriso largo quando aponta a câmera para si e, quando sai de cena, os dentes se escondem e a postura fica reclusa a uma tela de smartphone.

Essas são algumas cenas do nosso dia a dia moderno para uma parte das pessoas que têm acesso à internet. É estranho pensar que na palma das nossas mãos, temos um mundo, mas não o real de fato. Esse detalhe, de que vivemos também no mundo virtual, faz toda a diferença, já que é um ambiente ainda mais manipulável em que enredos são construídos para montar uma percepção limitada dessa realidade aumentada, por assim dizer.

Fato é que a cada dia que passa, as tecnologias vêm tomando um espaço  maior em nossas vidas. Não precisamos ligar para falar com um atendente se queremos um lanche, por exemplo. O sistema eletrônico cria as informações de cardápio, te oferece, você seleciona e o pedido chega nas mãos dos chefs para o preparo. Inclusive, já existe uma McDonalds, localizada no Texas, nos Estados Unidos, que possui o atendimento inteiramente robotizado.

O cliente faz o pedido na tela automatizada, disponibilizada pela loja, e aguarda ficar pronto, tendo a opção de drive-thru também, feita através de um robô que entrega o produto ao consumidor que se encontra no automóvel.

A nossa capacidade de nos comunicarmos tem gerado dificuldade de compreensão ao nos relacionarmos com outras pessoas. Se fazer entender através da fala parece que ficou antiquado. É comum ler nos status de WhatsApp a frase ´´não atendo ligações´´ ou ´´só ligue se for urgente’’ e até ‘’não mandem áudio’’. Nem um áudio?

Inquieto, entrevistei a psicóloga clínica Maria Eduarda Salsa para saber um pouco mais sobre como a relação com as mais diversas inteligências artificiais agem com o nosso cérebro, com a saúde mental e formas de relações interpessoais.

‘’Redes sociais e tecnologias são temas que sempre surgem como demandas nas relações interpessoais da contemporaneidade. Existe uma grande demanda de comparações, juntamente com uma necessidade de aprovação e validação do ‘’Eu’’ que as pessoas esperam receber através da edição e de recortes de uma vida, que é alimentada nas redes sociais. Em excesso, essas comparações prejudicam e distorcem a realidade”, explica Maria Eduarda.

O que não tem remédio, remediado está?

Há estudos que comprovam que o uso de ferramentas digitais pode causar danos à nossa saúde. Segundo dados do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais, dos Estados Unidos, o uso de um dispositivo móvel no turno da noite, refletindo a claridade da luz no rosto, pode desencadear doenças como a depressão, pois o relógio biológico humano recebe informações erradas de qual horário se está no momento, gerando uma confusão nas informações emitidas para o cérebro.

Um artigo publicado em 2022 no Journal of Integrative Neuroscience chamado ‘’Demência digital na geração da Internet: o tempo excessivo de tela durante o desenvolvimento do cérebro aumentará o risco de doença de Alzheimer e demências relacionadas na vida adulta” alega que a exposição excessiva nas telas pode ocasionar distúrbios cognitivos, afetar a concentração, o funcionamento social e a memória pode ficar comprometida. 

O professor Júnior Rodrigues, que tem licenciatura em artes visuais com ênfase em digitais, leciona para a faixa etária entre 5 e 12 anos de idade. Ele observou o seguinte: “eu acho que falta o incentivo adequado para usar a inteligência artificial. Os alunos não entenderam ainda o potencial da IA. Quando usam, é para fazer um texto que fica visível que não foi o aluno que escreveu’’, pontua o educador. ‘’O grande desafio é fazer com que o estudante use de maneira correta. Está no início essa realidade de IA e acho que é difícil julgar ainda se há uma distância ou aproximação na relação do aluno com o professor e entre eles mesmos. É uma continuação do que já é feito em sala de aula, a utilização da IA. Acho que as pessoas ainda estão caminhando’’, completa.

A partir da fala do professor, ficou óbvio para mim que o papel do professor é contribuir na formação cidadã do aluno, ação essa que ferramentas como o ChatGPT não conseguem reproduzir. O grande ganho da educação é transformar a visão de mundo e ajudar a edificar valores internos. A tecnologia, bem como citou o educador Júnior Rodrigues, existe para complementar todo o processo que se vivencia em sala de aula.

No mundo dos games, o designer e ilustrador Thiago Laurentino contou como é a relação na comunicação entre os participantes dos jogos online. ‘’ É um ambiente muito tóxico para lidar, porque as pessoas, em geral, são preconceituosas e têm falas racistas, além de ser um lugar machista’’, observa Thiago.

O que temos é o suficiente?

Eu percebi conversando com essas três pessoas de áreas diferentes que todas possuem uma preocupação em comum: para onde estamos indo, de fato? Para uma evolução ou retrocesso do que se vem construindo? A maneira de se usar a IA é a grande questão. Parece que na maioria das vezes estamos usufruindo de um espaço que, além de não termos o domínio, compromete resultados que poderiam ser benéficos e mais proveitosos por causa do modo que está se deixando levar. 

* Título da matéria criado com o auxílio do ChatGPT.

Assista ao vídeo abaixo para entender mais sobre o assunto.