O futuro do sexo ou o sexo do futuro?

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Sucesso e risco da pornografia feita por IA. Entenda os riscos e as possibilidades.

Existem várias formas de sentir prazer, se relacionar, e as novas tecnologias já começaram a participar das intimidades dos seres humanos. Segundo a Arman Chaudhry, uma ferramenta de IA generativa, a inteligência artificial já é um recurso utilizado para o consumo de conteúdo pornográfico colocando 2023 entre os anos de maior audiência desse tipo de conteúdo. Mas a pergunta de um milhão de reais é a seguinte: como são produzidos esses conteúdos adultos, ou melhor dizendo, artificiais?

Vamos começar entendendo como funciona o treinamento dos algoritmos das plataformas responsáveis por desenvolver esse tipo de conteúdo.

Segundo o StartSe, portal de notícias de tecnologia, existem variedades de IAs que geram imagens circulando na internet. Esses sistemas as desenvolvem a partir de uma inovação chamada Generative Adversarial Network (GAN), que funciona da seguinte forma: os geradores formulam as imagens com base nos comandos emitidos pelos usuários, que serão enviados aos discriminadores para diferenciar as imagens IA das produzidas por mãos humanas. Mas o que fazem os discriminadores? Essa ferramenta melhora ao máximo o conteúdo que foi produzido, deixando perfeito.

Beleza, mas como o rosto do cara que interpreta o Superman acabou de passar na sua timeline do Twitter em um corpo completamente nu? Aqui a coisa começa a ficar sinistra. Segundo matéria do TechTudo, a inteligência artificial se apropria de imagens publicadas na internet sem a autorização das pessoas, por meio de crawlers (bots rastreadores), utilizando essas imagens para as suas produções. Pesado, não é?

Pornografia IA gerada por usuários do  Twitter/X.

 

Ficou com medo de ter seu rosto em uma foto comprometedora que você nunca tirou? Existem formas de prevenir que isso aconteça. É meio tosco o que vem a seguir, mas ajuda a manter seu belíssimo eu longe das produções IA — inclusive (e principalmente) das pornográficas. Uma das soluções implicadas é a adesão de marcas d’água, o que dribla a coleta dos algoritmos.

Como a psicologia avalia o consumo de conteúdo +18 feito por IA?

Apesar de ser uma nova modalidade das atividades pornográficas, o consumo de conteúdos sexuais desenvolvidos por tecnologia já pode ser avaliado como algo a ser observado, como enfatiza o sexólogo Diogo Santos.

“A partir do momento em que você condiciona esse tipo de conteúdo, pode acabar se desassociando da realidade. A inteligência artificial possibilita criar pornografia inimaginável através de sons e anatomias totalmente fora da realidade”, enfatizou.

Mas o que atrai as pessoas que consomem conteúdos pornográficos? Bom, para Sadrac*, de 26 anos, consumir pornografia é algo sazonal, o que não chega a ser um vício, mas que está presente em suas atividades.

“Eu recorro à pornografia porque é o que desejo fazer. Às vezes, depois de uma semana cansativa e não tenho ninguém para ficar, daí vejo um vídeo ou outro. Confesso que já assisti pornô IA, mas não é o que procuro quando estou com vontade de ver um vídeo +18”, enfatizou.

Mas, quando se trata de IA, o sentimento é o mesmo?

“Eu prefiro os conteúdos adultos feitos por pessoas. Não me vejo em um boneco transando”, declarou Sadrac.

Há quem goste! E o consumo dos registros feitos por humanos já é comprovado como danoso, em alguns casos, então o que esperar das consequências da produção a partir da IA?

“O excesso de pornografia pode condicionar o indivíduo aquele formato de sexo, levando as pessoas a acreditarem que aquilo é o sexo ideal. No entanto, sabemos que na indústria pornográfica, tudo é encenado e ensaiado. Muitas vezes, as pessoas ficam tentando reproduzir aquela performance sexual em seus relacionamentos, o que pode gerar ansiedade de desempenho e, consequentemente, disfunções eréteis”, conclui Diogo.

O que a legislação brasileira prevê sobre os riscos da IA?

Segundo matéria publicada pelo portal de notícias G1 em 31 de julho de 2023, o Brasil já começou a ter problemas com a inteligência artificial utilizada para fins pornográficos. Recentemente, Recife e Rio de Janeiro registraram casos da utilização indevida de imagens de adolescentes para a produção de imagens pornográficas. A legislação brasileira já qualifica “o uso de inteligência artificial para criar imagens e vídeos de pessoas nuas ou em atos sexuais pode ser caracterizado como crime de difamação, injúria e até mesmo estupro virtual”, afirma Pedro Silveira, advogado que publicou o livro “A LGPD Comentada”.

O que fazer ao perceber que a sua imagem está sendo utilizada para produção de conteúdo adulto? Silveira esclarece que “por se tratar de crime, a vítima deve buscar as autoridades policiais para que tomem as providências necessárias e também pode, na esfera civil, buscar uma compensação pelos danos morais que possa ter sofrido. Nessa situação, deve ser aplicado o Código Penal”, conclui.

Lei, psicologia ou bom senso

Será que dá para convivermos com a IA sem nos tornarmos máquinas sem sentimentos, capazes de usufruir dos limites do outro sem medir as consequências? Talvez seja só um lugar onde a humanidade aflora a empatia. O que você sentiria se fosse vítima de uma deep fake igual ao cara do Superman?

“Surtaria. Trabalho, sou funcionário público e estudante de direito. Isso acabaria com minha carreira, que nem começou, e seria afastado do cargo para não manchar a imagem da instituição que presto serviço”, Sadrac.

* nome fictício dado ao personagem.