Como a aprendizagem de máquina pode auxiliar no consumo consciente da moda.

A indústria da moda, como é sabido, tem grande impacto na devastação do meio ambiente e, ao longo dos anos, os grandes empresários têm encontrado muitos desafios na busca pela sustentabilidade, muito a partir da pressão da sociedade cada vez mais exigente e consciente de que os recursos naturais são finitos.
De acordo com o relatório Measuring Fashion: Environmental Impact of the Global Apparel and Footwear Industries Study, feito pela consultoria Quantis, em 2018, o setor da moda é responsável por 8% das emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera. De acordo com o relatório Fashion on Climate, da organização Global Fashion Agenda com a consultoria McKinsey and Company, a indústria da moda emitiu, em 2018, cerca de 2,1 bilhões de toneladas de gases causadores de efeito estufa em todo o mundo.
No geral, os relatórios sobre o impacto do setor no meio ambiente levam em consideração a fase da produção da matéria-prima, ou seja, produção das fibras, preparação e acabamento do tecido, que estão ligados ao uso de agrotóxicos no plantio de fibras, desperdício de água e o uso de substâncias químicas.
Nas últimas décadas, empresas, marcas e organizações vêm demonstrando uma maior preocupação no que diz respeito à responsabilidade socioambiental. Logo, os consumidores têm buscado cada vez mais produtos que usem menos recursos naturais e com o setor da moda não é diferente.
IA: algoritmos avançados e capacidade de aprendizagem
A inteligência artificial vem se apresentando como uma grande aliada e transformando o setor da moda. Com algoritmos avançados e alta capacidade de aprendizagem, a IA gera otimização dos processos de criação e produção. Essas soluções ajudam a minimizar a pegada ambiental do setor.
Para a designer, professora e pesquisadora de Design e Moda, docente embaixadora do movimento Fashion Revolution, Isabella Morais, a inteligência artificial pode contribuir para o setor, desde que usada de forma ética e responsável. “Ela está posta como uma ferramenta para agilizar processos, inovar, aproximar realidades distintas, criando pontes e recriando cenários e isso é positivo do ponto de vista da inclusão, da solução de problemas”, explicou a pesquisadora.
Iniciativas como provadores virtuais que otimizam os processos de vendas, visto que os consumidores não necessitam estar presentes fisicamente, os NFTs, “tokens não fungíveis”, que são produtos totalmente digitais, isto é, só existem no metaverso, surgiram na pandemia e foram impulsionados por grandes marcas como Balmain, Burberry, Dolce e Gabbana, entre outras.
A moda virtual, vista como moda sustentável, já que não passa pelos processos de produção de uma peça física, surgiu como proposta para cessar o distanciamento entre marcas e seus consumidores. Isabella ainda comenta sobre este novo mercado que está surgindo. “Claro que o contexto foi propício para que pessoas comprassem um tênis virtual, um objeto digital com selo de autenticidade que só poderia ser usado assim, no digital, mas isso abre um precedente para que marcas e empresas de moda invistam nessa tecnologia”, finalizou.
É bom, mas e os cuidados?
A designer, professora de costura e consultora em economia circular e sustentabilidade Natália Borges destaca a complexidade do assunto, pois ainda não há estudos suficientes para mensurar esses impactos.
“Por um lado, têm pontos positivos no sentido de que a gente pode acelerar processos, pode estudar dados, conseguir direcionar melhor a produção, a confecção de uma roupa para um cliente específico. Então, eu poupo tempo nesse processo e isso ajuda na sustentabilidade porque eu vou produzir menos peças pilotos, vou ter menos risco de erro, mas ao mesmo tempo quando a gente fala desses métodos que são utilizados a partir de computadores, de projetos que são feitos a partir de tecnologia, sabemos que utiliza-se muita energia”, disse.
A inteligência artificial tem transformado diversas áreas, incluindo a indústria da moda, com processos inovadores, e que impactam diretamente na sustentabilidade do planeta. No entanto, outros questionamentos como a falta de diversidade de corpos, observado que as imagens criadas pela IA generativa, termo para explicar a IA que pode criar vídeos, textos, imagens e áudios, reforçam padrões de beleza irreais.
Um outro questionamento é se a IA surgiu para agregar ou substituir profissionais de diversos setores. Isabela Morais acredita que essas ferramentas beneficiarão os profissionais que estiverem dispostos a inovarem. Em um contexto profissional, um designer ou estilista que domine ferramentas de IA tem muito mais chances de se adaptar a esse mercado de moda remodelado. Então, os criadores podem sim aprimorar os seus processos com o uso da IA. Se serão substituídos ou não, vai depender da forma como usarem: com menos ou mais conhecimento e eficiência é a grande questão”, concluiu.
Assista ao vídeo abaixo para entender mais sobre o assunto.