(IA)BC: a introdução da inteligência artificial na educação básica

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Como a chegada da geração de máquina nas escolas primárias pode ou não auxiliar o processo de aprendizagem e como superar essa barreira.

Dentre as muitas coisas que procurou em uma escola na hora de matricular seus filhos, Ana Cláudia Lobo nunca imaginou que precisaria se preocupar com inteligência artificial. Mãe de quatro crianças, na época em que a mais velha entrava no colégio, há seis anos, o assunto ainda nem era tema de discussão. Agora, porém, com o rápido avanço da tecnologia, as coisas mudaram de cenário.

“A inteligência artificial está sendo utilizada em vários setores e a educação está incluída. Nossa preocupação é no seu uso irracional, sabemos que é uma trajetória que não tem volta”, comenta Ana Cláudia.
O uso da inteligência artificial nas escolas ainda é um assunto do qual se fala no futuro. O mundo está caminhando para que daqui a alguns anos isso se torne uma realidade, mas por enquanto, são apenas previsões.

Anthony Lins é doutor em biotecnologia e professor do curso de Jogos Digitais da Unicap.

De acordo com o doutor em biotecnologia e professor do curso de jogos digitais da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Anthony Lins, “hoje existem, de fato, abordagens tecnológicas que utilizam a IA dentro do seu núcleo de processamento e que podem facilitar o desenvolvimento de materiais didáticos e direcionar o esforço do docente para que ele possa atuar com os alunos numa esfera mais crítica.” Anthony completa explicando que tal previsão é muito no futuro. “Ainda não existem estudos que possam determinar de fato como essa inteligência artificial deve e pode ser aplicada nas escolas”, completa Anthony.

Sobre os benefícios do uso dessa tecnologia na educação, Anthony explica que “a dinâmica de produção de conteúdo pode ser otimizada e experimentada com várias nuances, a depender do tipo de grau de aprendizado de cada aluno”. Já na gestão escolar, pode causar a proposição de novos cursos, a adequação de grades curriculares e a criação de modelos que possam observar o desempenho do aluno.

Não podemos deixar de fora o medo que esse assunto traz. Por ser um campo ainda desconhecido para a sociedade de modo geral, a inteligência artificial ainda causa muito receio.

“Precisamos mostrar e ensinar aos nossos filhos que essa tecnologia não pode substituir os estudos, a leitura e a escrita, para que eles consigam ser agentes de transformação, protagonistas de suas histórias e não apenas repetidores de um Ctrl+C e Ctrl+V”, diz Ana Cláudia.

Segundo o professor Anthony, esse medo não é de todo injustificado. “Acredito que isso seja algo muito natural no contexto de evolução tecnológica e educacional em que estamos. Não vamos ter como ficar à margem da adoção da IA nas escolas. Em diferentes realidades de condições econômicas, poderemos encontrar a adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial de uma maneira mais intensa que outras. O risco existe, mas cabe à avaliação de cada escola observar a eficácia desse tipo de abordagem para o contexto em questão”, comenta o professor. Ele cita como exemplo, ainda, o uso do ChatGPT pelos estudantes ao invés de realizar eles mesmos um trabalho.

“Cabe ao docente não limitar o uso, mas sim criar mecanismos para que o aluno saiba utilizar essa inteligência da forma correta. É uma ferramenta, não é algo tão diferente, guardadas as devidas proporções, do que houve com o surgimento da internet, ferramentas de busca como o Google, o uso da calculadora e smartphones em sala de aula. Tudo isso são coisas que auxiliam os processos de aprendizagem”, reforça Anthony

Ele completa dizendo que o que se pode fazer é uma análise crítica do texto produzido e uma dupla checagem para evitar fraudes.

Alguns métodos de segurança com inteligência artificial já são utilizados em escolas e universidades pelo Brasil, a exemplo das catracas com a identificação dos alunos e funcionários através de um QR Code único.

Em Recife, algumas escolas de ensino fundamental e médio já têm utilizado a inteligência artificial. O Colégio GGE, em Boa Viagem, zona sul da cidade, por exemplo, utiliza reconhecimento facial para a entrada e saída dos alunos. A tecnologia identifica as turmas e turno, e realiza um game com o uso da tecnologia, ainda que de forma não dinâmica, mas sim estática, que consiste em perguntas e respostas baseadas no conteúdo abordado em sala de aula.

Do outro lado da cidade, o Colégio Vera Cruz, que fica no bairro das Graças, zona norte do Recife, não utiliza nenhum tipo de inteligência artificial em sua estrutura. “[A inteligência artificial] é uma coisa que ainda vai se prolongar, ainda vai se pensar com muito cuidado sobre introduzir algo do tipo”, explica Lidiana Barros, pedagoga da instituição.

O professor Anthony está positivo sobre o crescimento não só da IA de modo geral, mas também desse avanço na educação. “Acho que isso vai ser um atrativo para estudantes e pais, demonstrar que a escola é inovadora. Eu diria que a partir do próximo ano (2024) poderemos ver esse crescimento já se tornando realidade”.

Ana Cláudia concorda. “Nós temos que tirar o melhor desse avanço. A escola dos meus filhos busca sempre estar à frente em termos de tecnologia, não apenas na gestão escolar, mas no apoio que os professores poderão dar aos alunos, então acho que teremos mais pontos positivos do que negativos sobre isso”.

O fato é que este é um novo mundo que está chegando a uma velocidade impressionante e dominando tudo ao seu redor. Os pais e educadores têm a difícil tarefa de ensinar as crianças a lidar com todas essas novidades tecnológicas ao mesmo tempo que nós mesmos estamos aprendendo. A inteligência artificial pode ser boa ou ruim, tudo depende de como a utilizamos.