O impacto silencioso da inteligência artificial no cérebro humano

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Como a IA está configurando nossa cognição e comportamento?

Uma das mudanças mais notáveis é a forma como a inteligência impacta nossa cognição e o processo de tomada de decisões. Com assistentes virtuais, algoritmos de recomendação e análise de dados em grande escala, nosso cérebro está sendo constantemente desafiado a processar informações de maneiras novas e complexas. Por um lado, isso pode aprimorar nossas habilidades de resolução de problemas e pensamento crítico. No entanto, também pode levar a uma dependência excessiva da tecnologia, diminuindo nossa capacidade de memorização e raciocínio autônomo.

Mas afinal, quais os reais impactos da inteligência artificial no nosso cérebro?

Segundo a psicoterapeuta Hosana Michella, “a inteligência artificial pode causar um atraso no desenvolvimento cognitivo, partindo da perspectiva de o sujeito optar por buscar respostas de forma mais fácil e rápida, [mas] cabe salientar, que a tecnologia veio para agregar ao sujeito e não substituir a capacidade intelectual do indivíduo”.

Ainda de acordo com a profissional, “todo estímulo é levado para o cérebro através das sinapses, entretanto o estímulo tem uma tendência a ser absorvido, porém cabe ao indivíduo compreender se esse estímulo é positivo ou negativo para seu desenvolvimento”.

Em outras palavras, os usuários têm o poder de escolher o que vão ou não absolver. Se vai utilizar as informações fornecidas pelo sistema ou se vai aderir e estimular um pouco mais o cérebro até chegar ao ponto de conseguir as suas próprias conclusões sobre alguma temática, por exemplo.

A IA também está redefinindo o aprendizado. Plataformas de ensino e treinamento baseadas na inteligência personalizam o conteúdo para atender às necessidades individuais, tornando a educação mais acessível e eficaz. No entanto, isso levanta preocupações sobre a padronização do conhecimento e a redução da diversidade de perspectivas no processo educacional e estímulos do cérebro, principalmente para o público infantil.

Em sua segunda edição, o Estudo OPEE 2023, realizado com educadores de escolas públicas e privadas, contou com 97,02% dos votos para o uso excessivo das telas entre crianças e adolescentes sem o acompanhamento familiar. 

“A tecnologia vem para agregar positivamente, entretanto o abuso do uso pode possibilitar o atraso no desenvolvimento. Muitas pessoas estão utilizando esse recurso como único método para algum conteúdo específico, ou seja, o uso de forma negativa, pode acarretar possíveis traumas e frustrações. E como fica esse sujeito caso não tenha acesso a essa ferramenta?”, explica a psicoterapeuta Hosana.

Imagem criada por IA: Input – “Pessoa dependente da inteligência artificial”. Imagem: DALL-E.

É possível desenvolver mais o cérebro se não usar inteligência artificial? 

De acordo com Hosana, a resposta é sim. “Existem várias maneiras de promover o desenvolvimento cognitivo, como a leitura regular, a prática de jogos que exercitam o raciocínio, a aprendizagem de novas habilidades, a resolução de problemas, o estudo de idiomas e até mesmo a prática de exercícios físicos, que pode ter benefícios para a saúde mental. O cérebro é altamente maleável e pode ser fortalecido e desenvolvido por meio de uma variedade de atividades e estímulos mentais’’, reforça Hosana. 

Ainda segundo Hosana, “a tecnologia veio para somar ao sujeito. Quando se faz o uso de forma saudável, ela vem para agregar. Entretanto as mudanças sempre estão presentes, mas não são determinantes. Portanto, cada sujeito possui habilidades que foram apreendidas ou construídas durante seu processo existencial. Os algoritmos oferecem o que foi compreendido como preferência da pessoa. É normal que o conteúdo seja seguido, seja algo que faça sentido para o sujeito. Então moldar ou não moldar depende muito de como você se relaciona com a ferramenta”.

A estudante em técnico de computação gráfica Maria Luiza diz que é uma usuária constante da IA e ChatGPT. Ela afirma que sempre usa a inteligência para realização de trabalhos, criação e correção de textos. “Muitas das minhas atividades precisam de criatividade e se você pedir até uma história sobre dois personagens fictícios a IA faz. “A vontade de utilizá-la em trabalhos simples como rever um texto e corrigir é enorme”, comenta.

Em resumo, a IA está desafiando nosso cérebro de maneiras profundas e complexas. A tecnologia nos força a equilibrar os benefícios da tecnologia com as preocupações sobre sua influência em nossas vidas e sociedade. À medida que continuamos a avançar na era da IA, é fundamental adotar uma abordagem ética e responsável, assegurando que a tecnologia esteja a serviço do bem-estar humano.

Assista ao vídeo abaixo para entender mais sobre o assunto.