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Perfis – Jovens Universitários do Pilar

JACKSON AUGUSTO

Márcio da Silva

Meu nome é Márcio da Silva, tenho 21 anos, moro com a minha mãe, meu padrasto e minha irmã. Eu estudei do maternal até a 5ª série na Escola do Pilar, mas depois, até o 3º ano do Ensino Médio, eu estudei fora da comunidade. Hoje eu faço desenvolvimento de Jogos Digitais no Senac e estou terminando o 2º período. Consegui uma bolsa 100% através do programa Pilar Universitário, que é uma parceria entre o Porto Digital e o Senac, com a finalidade de garantir o acesso dos moradores do Pilar ao Ensino Superior. No momento, dou aula de informática básica em um projeto que fica aqui perto, chamado O Portal. Consegui entrar nesse projeto nos primeiros meses do curso. A minha família tinha um computador quando eu era mais novo, daquele da formatação bem antiga de monitor de tubo, que hoje em dia nem roda mais, é descarte, né? Eu já tive também consoles de videogames. Sempre me despertou uma curiosidade o mundo da tecnologia, mas, por ser de periferia, o acesso a esse mundo é um pouco mais distante. Quando completei 17 anos, comecei a me questionar em como entraria nessa área. Em 2021, aos 19 anos, consegui fazer o meu primeiro curso de programação, depois fiz um curso de informática básica para entender meu pacote Office e cá estou eu de novo nesse mundo aí, mas é porque sempre me despertou esse interesse saber como eram criados os jogos. Eu vou falar uma coisa, se eu juntar toda a minha família materna e paterna, eu vou ser apenas a quinta pessoa que vai se formar no Ensino Superior. Não era só porque a faculdade, para mim, por vir da periferia, era distante… a questão é que não era tão óbvio, para mim também, fazer faculdade. Eu seguia uma linha de raciocínio que até certo ponto fazia sentido mesmo: “Para você ser um programador, não necessariamente precisa fazer faculdade”. Mas o mercado se atualiza, e meio que se cria uma norma de que precisa fazer um curso superior e você acaba sendo “forçado” e direcionado a isso. Tem seus prós e contras, mas é muito bacana você ser formado e tals. Para mim, eu sempre achei que se eu quisesse, conseguiria, isso já foi provado, quando eu quis viajar para outras cidades. A questão da faculdade em si, eu via que ela era distante para mim, porque era uma questão de tempo, e também eu tinha um caminho para percorrer, pois faculdade a gente sabe que não é barata, e no momento não dava. Foi muito importante essa virada de chave porque junto comigo entrou uma galera aqui da Comunidade e a gente acaba se tornando um espelho não somente para a nossa família, mas também para os nossos vizinhos. Então, eu estar em uma faculdade agora, principalmente pela parcela que eu estou representando, está sendo muito importante para mim. Eu aconselho aos outros jovens da periferia a questionarem qual é a importância e qual vai ser o diferencial, para vocês, terem um curso superior. Olhar ao seu redor e perceber onde estão as pessoas que infelizmente não acessaram ou não optaram por uma formação na faculdade, e o que as pessoas que têm ensino superior alcançaram e ainda estão alcançando e reflitam: qual é a vida que queremos levar?

Sthefani do nascimento

Meu nome é Sthefani do Nascimento, tenho 22 anos, seis irmãos, e moro no Pilar desde sempre. Minha família sempre foi daqui também. Eu nasci na comunidade e, apesar de ficar um tempo fora, depois voltei e, digamos, que fui sempre daqui. Eu estudei na Escola do Pilar desde pequena, fiz do maternal até a 4ª série e depois fui estudar no centro da cidade. Estou fazendo design de moda. Iniciei em janeiro de 2024. Eu faço no Senac como bolsista do programa em parceria com a Comunidade do Pilar. Em relação à escolha do curso, eu gosto da área. Eu queria muito aprender e me chamou bastante atenção. É uma imensa oportunidade, né? Porque a gente, como da Comunidade, não se vê muito em certos lugares, entende? Não se vê muito nesses espaços e nem temos muitas oportunidades e não estudamos nas melhores escolas, não tivemos as possibilidades que o dinheiro proporciona. Então, ter uma oportunidade dessa em uma faculdade é muito importante. A mensagem que eu deixo é que estudar é importante, é algo que ninguém tira de você. Então, qualquer oportunidade de estudar, qualquer curso, aproveite, porque é a única coisa que você pode ter certeza que ninguém vai tirar de você: conhecimento. Eu não sinto muita desigualdade, não, porque no meu curso tem uma diversidade grande, tem gente de todas as idades, tanto mais nova quanto mais velha. Em termos de conhecimento, não é muito equilibrado: você sente um pouco de diferença na questão do dinheiro, porque a maioria tem um custo de vida muito bom, mas eu não me sinto incomodada com isso. Contudo, você vê essa desigualdade. É real. Quando eu terminar, eu penso em abrir uma loja para mim e fazer as minhas próprias coleções. Mas, como estou no começo, ainda tenho muita coisa para conhecer, muita gente fala que entra aqui pensando uma coisa, mas tem várias outras possibilidades. Então, daqui para o final, posso mudar de ideia, vamos ver como vai acontecer.