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A história de Rosineide Santana pautada pela mobilidade no Recife

TIAGO HUNKÁ

As diferentes manifestações dentro da Comunidade do Pilar refletem uma queixa que se arrasta há muito tempo. Os moradores reclamam das condições precárias e das poucas iniciativas e auxílios por parte da Prefeitura. Uma das queixas mais comuns é a percepção de que o bairro é péssimo e praticamente invisível para quem é de fora. Rosineide Francisca de Santana, de 63 anos, aposentada e moradora da comunidade há mais de 20 anos, relata que sua vivência no Pilar não tem sido agradável. Segundo ela, um dos principais problemas é a falta de acesso à mobilidade.

Rosineide nasceu e cresceu no bairro de Santo Amaro. Filha de profissionais autônomos, “Rose” começou a trabalhar bem cedo, como faxineira doméstica, para ajudar a família. Na época, ganhava um salário-mínimo por mês fazendo jornadas duplas, que mais tarde a ajudaram a melhorar as condições dentro de casa. “Fiz igual a minha mãe e meu pai, trabalhei com tudo que tinha disponível para mim”, disse Rosineide, sobre como foi trabalhar de maneira autônoma para ajudar em casa, na mesma época que estudava.

Mais tarde, ela foi apresentada a novas oportunidades de emprego, trabalhando como babá para famílias na região da Tamarineira e na rua da Aurora. Após essa experiência, conseguiu uma vaga como auxiliar de cozinha, onde trabalhou por um bom tempo em restaurantes e lanchonetes no centro da cidade. Depois de ser demitida do emprego anterior, conseguiu uma vaga como cobradora de ônibus. Esse foi um dos momentos mais marcantes da história de Rosineide, quando ela conseguiu melhores condições de trabalho e mudou sua vida. Foi também nessa época que ela se casou e constituiu uma família.

“Foi um momento gratificante para mim, pude cuidar do meu primeiro filho e viver de maneira confortável junto do meu marido, ainda em Santo Amaro, na antiga casa da minha mãe”. Apesar de ter passado por dificuldades econômicas anteriormente, Rosineide conseguiu seguir uma vida mais tranquila desde que se tornou cobradora de ônibus. 

O terminal onde começou a trabalhar foi em Cruz de Rebouças (Igarassu), seguindo os trajetos para Ramiro Costa, até o centro da cidade do Recife, de segunda a sexta-feira, trabalhando das 4h da manhã até as 20h da noite. Apesar das dificuldades como cobradora de ônibus, as únicas preocupações que vinham em mente era se o seu salário poderia garantir uma boa educação para o filho que, na época, ainda cursava o Ensino Fundamental. 

Depois de trabalhar quatro anos para a empresa Oliveira, ela conseguiu uma vaga em outra companhia de ônibus, a Itamaracá Transportes. Após mais quatro anos trabalhando para a empresa como cobradora, ela viu seu destino mudar novamente: ficou desempregada, mas conseguiu o direito à carteira assinada como lavadeira, um ano depois, no Porto do Recife. 

Apesar de estar trabalhando, o dinheiro não era o suficiente para pagar todas as despesas e, portanto, Rosineide de segunda a sexta-feira ainda fazia a limpeza geral no Porto, pela manhã, e durante a tarde na antiga Livraria São Paulo, servindo café como garçonete.

“Eu tinha que fazer jornada dupla, se não eu não conseguiria comprar comida e pagar a conta de luz. Sempre arrumava um jeito de me virar”

Na época em que Rosineide trabalhava como lavadeira no Porto do Recife, ela ainda morava no bairro de Santo Amaro. De lá, pegava um ônibus para a Boa Vista e, em seguida, para o terminal de Joana Bezerra, onde embarcava no ônibus circular até a parada em frente ao Porto, na Avenida Alfredo Lisboa, ao lado da Comunidade do Pilar. 

Após se mudar para a Comunidade do Pilar, e ainda trabalhando no Porto, Rosineide tinha que percorrer um longo caminho – muitas vezes à pé, uma vez que a linha de ônibus foi desativada – até chegar à antiga Livraria São Paulo, na Rua Frei Caneca, no centro, para trabalhar. Atualmente aposentada, morando junto com o filho mais velho, depois de fazer jornadas duplas como lavadeira e garçonete, ela conta que morar no Pilar ainda é difícil, e que seria muito melhor se alguns dos problemas da comunidade fossem resolvidos priorizando o bem-estar dos seus vizinhos. 

“Eu já trabalhei como cobradora de ônibus por vários anos e sei que, se essa linha voltasse, com o antigo Circular Joana Bezerra, facilitaria muito a vida de quem mora por aqui também. Nós que estamos aqui no Pilar não temos muito, mas estamos tendo um pouquinho de dificuldade na questão de se locomover pela cidade.Parece que a comunidade não existe para os olhos de quem passa por aqui, parece que somos invisíveis”, ressaltou Rosinede, sobre como é viver no bairro Pilar, e como se sentem abandonados e esquecidos.