NATANAEL JUNIOR
O setor digital continua a crescer, proporcionando oportunidades de imersão em novos mundos e empregos. Diante disso, é importante questionar como os jovens estão sendo inseridos nesse meio, especialmente aqueles que vivem ao lado do Porto Digital, na Comunidade do Pilar. Queremos saber como os jovens e adultos dessa comunidade podem se integrar a esse ecossistema. Nesta reportagem, entrevistamos Pierre Lucena, presidente do Porto Digital. Pierre foi escolhido pelo Conselho de Administração do parque tecnológico como presidente em 2018 e, até 2025, tem o desafio de dobrar o tamanho do ecossistema. Ele é administrador, mestre em economia e doutor em administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de atuar como professor de finanças. Pierre também já atuou na gestão pública do estado e como reitor de um centro universitário.
Atualmente, o que o Porto Digital busca promover em termos de desenvolvimento para o nosso estado?
O Porto Digital tem dois pilares muito claros desde sua fundação: fazer do Recife a capital brasileira da tecnologia e da economia criativa; e requalificar o Centro Histórico e Cultural do Recife. Esses dois objetivos estão diretamente interligados ao desenvolvimento de Pernambuco e do Brasil, com a atração de grandes empresas nacionais e internacionais, fomento ao empreendedorismo inovador com programas de incubação e aceleração, e formação de capital humano para a área de TI, com inclusão produtiva de populações mais vulneráveis. No contexto brasileiro, Recife se destaca como o município com maior quantidade de estudantes per capita de TI. O Porto Digital contribui ativamente com esse cenário por meio do Embarque Digital, que, em parceria com a Prefeitura da Cidade do Recife, disponibiliza bolsas de graduação para alunos de escolas públicas, contribuindo ativamente para a transformação social.
Quais são as principais atividades tecnológicas em que o Porto Digital está engajado?
O Porto Digital é um parque tecnológico focado no desenvolvimento de software e serviços de tecnologia da informação. As empresas e institutos de ciência e tecnologia atuam em diferentes áreas, como cidades inteligentes, internet das coisas (IoT), e com grande foco em aplicações mobile.
Qual é o impacto que o Porto Digital pode causar nas comunidades periféricas? O que o Porto Digital pode oferecer em termos de serviços para essas comunidades, como a do Pilar?
O Porto Digital assumiu o compromisso de apoiar a Comunidade do Pilar, que está dentro do território do parque, no Bairro do Recife. Nos últimos anos, fortalecemos nossas iniciativas na localidade, especialmente durante e após a pandemia. Realizamos ações de doação de cestas básicas para todas as famílias, instalamos Wi-Fi de alta velocidade gratuito para que os moradores pudessem ficar conectados durante o isolamento, e lançamos o programa Pilar Universitário. Essa iniciativa visa universalizar o Ensino Superior no Pilar: moradores da comunidade que completaram o Ensino Médio podem fazer um curso universitário gratuito na Faculdade Senac, instituição parceira do Porto Digital, com foco na inclusão produtiva da comunidade como instrumento de desenvolvimento econômico. Outra forma de atuação é a formação na área de TI em parceria com instituições. O Embarque Digital é um exemplo, oferecendo bolsas integrais em cursos superiores de Sistemas para Internet e Análise e Desenvolvimento de Sistemas para egressos do sistema público de ensino.
Vocês recebem investimentos ou incentivos para qualificar os moradores do Pilar?
Não. As iniciativas no Pilar são propostas pelo Porto Digital às empresas embarcadas e associações do ecossistema de inovação, que atuam de forma voluntária.
Quais são os planos de investimento para levar mais qualificação e abrir portas para o mercado de trabalho?
O futuro da área de tecnologia depende de algo essencial: pessoas. O mercado de TI como um todo sofre com a falta de capital humano. No Porto Digital, focamos na formação de mais profissionais para trabalhar e empreender na área. Mais do que isso, é importante que essas pessoas tenham uma educação de qualidade, alinhada às necessidades do mercado de trabalho. Fizemos parcerias com instituições de ensino para ajustar as grades curriculares de cursos de TI e incluímos a disciplina obrigatória Residência Tecnológica Profissional, na qual os estudantes resolvem desafios reais propostos por empresas do parque e interagem diretamente com profissionais e líderes empresariais.
Quais são os desafios que o Porto Digital enfrenta para integrar e impulsionar o desenvolvimento da Comunidade do Pilar?
Um dos principais desafios é superar as disparidades socioeconômicas e educacionais que podem limitar o acesso das pessoas a oportunidades de qualificação e emprego no setor de tecnologia. Além disso, a infraestrutura limitada, inclusive de internet, em algumas áreas, pode dificultar a implementação eficaz de programas de inclusão digital e formação profissional.
Quais são os setores do parque tecnológico que estão mais aquecidos e prontos para acolher jovens com estudos e emprego?
A área de tecnologia como um todo demanda mais profissionais. No Porto Digital, temos empresas em diversas áreas, desde cibersegurança até internet das coisas, com destaque para o mobile, onde nos sobressaímos. Todo celular produzido no Brasil tem tecnologia desenvolvida no Porto Digital.
Já é possível apontar qual o futuro tecnológico do nosso estado?
O mundo da tecnologia é muito dinâmico. Por exemplo, a inteligência artificial ganhou popularidade nos últimos dois anos, mas uma das maiores empresas de IA do Brasil nasceu aqui há mais de 20 anos. A certeza que temos é que o estado, tanto na estrutura pública quanto nas empresas privadas, passa por uma transformação digital que só tende a crescer nos próximos anos.
Quais são os planos do Porto Digital para os próximos cinco anos? E onde as ações sociais para o Pilar estão inseridas nesses planos?
Nos próximos anos, o Porto Digital visa expandir para outras regiões de Pernambuco, assim como para outros estados e países. Em julho, inauguraremos o novo escritório do Porto Digital Europa em Aveiro, Portugal, e no primeiro semestre de 2025, a nova unidade do Armazém da Criatividade no coração de Caruaru. Continuaremos com ações na comunidade do Pilar, como o Pilar Universitário, além de outras iniciativas que ainda iremos anunciar.