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O pequeno mundo subdividido da Comunidade do Pilar

ALVARO TORRES

Num lado, edifícios e casas erguidos, no outro, novos prédios
em construção e, do outro, casas de tábua e madeira.

Em um pequeno terreno, o Pilar é dividido entre um futuro conjunto habitacional — hoje um canteiro de obras —, conjuntos já erguidos e uma área com barracos feitos de tábua e madeira. Esses barracos ficam nos arredores da Igreja de Nossa Senhora do Pilar. Na frente da igreja, os moradores se dividem para lavar roupas e louças em um tanque improvisado montado no local. Este pequeno espaço, com moradias improvisadas, está próximo à construção das novas unidades habitacionais prometidas pela Prefeitura do Recife para serem entregues em dezembro de 2024. No entanto, é nítida a subdivisão existente hoje na comunidade.

Nos arredores do quarteirão da chamada Igrejinha do Pilar, existe um espaço repleto de mato e lixo, provocando riscos à saúde pública devido à infestação de insetos peçonhentos, como escorpiões. Dona Janicleide Regina comenta sobre a situação: “Atrai mosquito da dengue, essas coisas, e aparece também muita barata, escorpião… Eu mesma fui picada por um escorpião, em abril”. Ela ainda cita o que falta na comunidade: “Uma farmácia, um açougue, uma padaria e outras coisas mais”. O único posto de saúde da comunidade não tem medicamentos suficientes para atender toda a população. Remédios são comercializados no Pilar apenas em uma barraca.

Janicleide Regina – Foto: Álvaro Torres
Janicleide Regina – Foto: Álvaro Torres

Do outro lado da comunidade, mais especificamente ao lado do futuro shopping Moinho, também existem imóveis em situação extremamente precária. Informalmente, alguns moradores afirmaram que a região teme a proximidade do desenvolvimento do projeto arquitetado pelo Porto Novo Recife, pelo risco de expulsar os moradores do local. Já a obra dos novos apartamentos segue a todo vapor. Nenhum funcionário quis atender a nossa reportagem, nem para comentar informalmente sobre o andamento dos serviços.

Um dos moradores ativos na luta pelos direitos da comunidade do Pilar, Josafá José, reiterou a promessa dada pela Prefeitura do Recife de que a entrega será feita no final deste ano: “O projeto inicial é de serem entregues 588 novas unidades habitacionais totalmente dedicadas à Comunidade do Pilar. Só que tem outros cadastros, de pessoas que reinvadiram, e o número hoje passou dos 600. Porém, as 588 que foram prometidas entre 2007 e meados de 2012 estão garantidas para esta entrega. Esta é a primeira etapa. Já a segunda etapa, para as pessoas que reinvadiram e se cadastraram depois… bem, estão no aguardo para receber uma moradia em outra comunidade”, disse. No começo de maio deste ano, uma reunião entre os moradores e a Prefeitura não resultou em um acordo firmado.

Josafá José ainda afirma que, como promessa de campanha de reeleição do atual prefeito, João Campos (PSB), a Prefeitura do Recife deve entregar até o final de 2024, os títulos de posse aos moradores da comunidade: “Eles serão registrados em cartório e estamos também no projeto de regularização fundiária, que é muito importante, pois será quando o morador terá toda a documentação regularizada, tudo certinho no cartório, tudo legalizado, pois é muito importante o morador ter uma moradia digna”, destaca. João Campos tenta ser reeleito prefeito da capital pernambucana e vem sendo acusado de fazer campanha antecipada em diversas práticas, além das promessas à Comunidade do Pilar, durante o Carnaval do Recife, com um gasto maior em publicidade que na festa em si, com o intuito de impulsionar a imagem nas redes sociais e por pagar altos cachês a influenciadores digitais com a mesma finalidade.

Foto: Álvaro Torres
Foto: Álvaro Torres

Enquanto isso, quem vive nos barracos tem uma única certeza: a de que a saída será por indenização, mas eles não irão receber os novos apartamentos e nem uma promessa futura de moradia. Ou seja, quem mora nos barracos está desamparado pelo poder público. Além disso, os proprietários dos imóveis improvisados afirmam que o município quer pagar um valor inadequado por cada imóvel, insuficiente para conseguir outra moradia em outro lugar da cidade.

É o que diz dona Josinete Ferreira de Matos, de 55 anos: “Aqui é auxílio-moradia. Eu recebo desde quando cheguei, em 2016. Não sei se vou ganhar apartamento aqui ou em outro canto. Mas, para esses barracos aqui agora, se ganhar auxílio, não tem apartamento aqui. Quer dizer que ainda vão escolher o terreno para construir e iniciar o projeto. O verdadeiro dono dos barracos está decidindo quem vai ganhar o auxílio e quem vai ganhar a indenização”, afirma. Josinete ainda menciona rumores de que o auxílio pode ser cortado nos próximos seis meses: “Estão dizendo que daqui a seis meses o auxílio vai ser cortado. E isso está errado, porque não podem cortar o auxílio”, diz. Contudo, Dona Josinete Ferreira de Matos não participou de uma reunião entre a Defesa Civil do Recife e moradores do Pilar devido a uma viagem para Goiás. Apesar disso, Dona Josinete tem esperança de um futuro melhor para ela e sua família.