
BEATRIZ GALVÃO
Nilson Melo, professor de jiu-jitsu e fundador do “Tatames do Pilar”, usa o esporte para transformar a vida dos jovens na Comunidade do Pilar. Em sua entrevista, ele destaca como o jiu-jitsu ensina respeito, disciplina e autoconhecimento, proporcionando uma alternativa positiva às ruas. Inspirado por sua própria experiência em um projeto social na infância, Nilson criou o “Tatames do Pilar” para ajudar crianças e adolescentes a se desenvolverem pessoalmente.
Como você descreveria a importância do esporte, especificamente do jiu-jitsu, em uma comunidade como a do Pilar?
O jiu-jitsu é uma ótima ferramenta de aprendizado, que carrega consigo respeito, hierarquia e disciplina. Eu moro no Pilar há 23 anos e sei que os jovens de lá são bastante vulneráveis e precisam de apoio social. Eu consigo ter uma comunicação direta e aceitável com meus alunos pelo fato de morar no Pilar, conhecer suas famílias e já ter o respeito deles. Eu costumo dizer que o jiu-jitsu é como uma ponte para acessar os jovens e apresentá-los às qualidades da arte marcial.
Qual foi a motivação por trás da criação do projeto na comunidade?
Meu principal motivo foi que fui acolhido quando criança por educadores do Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC). Lá, descobri muitas habilidades que não sabia que tinha e conheci pessoas ótimas. Passei de um jovem perdido e vulnerável do Pilar para um jovem com inúmeras possibilidades de me tornar um cidadão de bem e de caráter. Sempre quis fazer algo de bom para as crianças e adolescentes da minha comunidade. Foi então que tive a ideia de compartilhar um pouco dos meus conhecimentos sobre jiu-jitsu. Assim nasceu o projeto social “Tatames do Pilar”.
Como você acredita que o jiu-jitsu pode ajudar a superar os obstáculos enfrentados?
O jiu-jitsu faz com que crianças que chegam de cabeça baixa passem a falar olhando nos olhos das pessoas. Essa é a força do autocontrole e do autoconhecimento que intensificamos com as artes marciais. Com o projeto social, consigo tirar crianças que poderiam estar ociosas ou nas ruas aprendendo algo errado, oferecendo-lhes uma alternativa positiva.
Nesse sentido, quais são os principais benefícios que os jovens da comunidade têm recebido ao participar do programa de jiu-jitsu?
Os principais benefícios são autoconhecimento, autodefesa, disciplina e respeito pelo mestre, pelos colegas de treino e pelo tatame. Com certeza, essas pessoas levarão esse respeito para fora do tatame. Além disso, o jiu-jitsu, por ser um esporte que exige condicionamento físico, valoriza muito uma boa saúde alimentar e a prática de exercícios físicos.
Como você vê o papel do jiu-jitsu não apenas como uma atividade esportiva, mas também como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e social para os moradores do Pilar?
O jiu-jitsu é uma ótima ferramenta para tirar os jovens da ociosidade e das ruas. Com o jiu-jitsu, consigo ensinar valores, respeito ao próximo, cuidado com a saúde e autodefesa, entre outros. Assim, o projeto social “Tatames do Pilar” tira as crianças da rua, acolhe, ensina e direciona para que se tornem bons cidadãos no futuro.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao implementar e manter o projeto de jiu-jitsu na comunidade?
O meu maior desafio para iniciar as aulas foi encontrar um local coberto e obter tatames. Também enfrentamos dificuldades com lanches e água para as crianças.
Você pode compartilhar alguma história ou experiência específica que demonstre o impacto positivo do jiu-jitsu na vida dos participantes do projeto?
Tenho crianças que chegaram para a primeira aula de cabeça baixa, com dificuldade até de falar, devido à baixa autoestima e falta de autoconfiança. Recebi crianças com históricos de brigas e notas baixas na escola. Hoje, vejo essas mesmas crianças mudadas. Fiz questão de visitar a escola onde meus alunos estudam para saber como estão. Perguntei como estão na sala de aula e se continuam brigando. Recebi a devolutiva da vice-gestora de que estão muito bem e que suas notas melhoraram. Vejo que o jiu-jitsu e as aulas de bons modos estão dando frutos.
Quais são os planos futuros para o projeto? Há algum objetivo específico que você gostaria de alcançar?
Meu sonho para o futuro é termos uma sede para as aulas e formar turmas não só de crianças, mas também de adultos.
Como você gostaria que o projeto contribuísse para transformar a realidade da comunidade do Pilar a longo prazo?
Gostaria de formar não só faixas pretas de jiu-jitsu, mas também cidadãos de bem, e quem sabe ver alunos do projeto se tornando campeões mundiais em sua modalidade. Quero também minimizar a violência em minha comunidade, tirando ou prevenindo que os jovens entrem no mundo do crime. Esse é meu maior objetivo.