Torcida Organizada: Muito além do estigma da violência

O verdadeiro papel das torcidas organizadas no futebol pernambucano 

As torcidas organizadas no Brasil são mais do que simples grupo de apoio à clubes de futebol; são verdadeiras comunidades que celebram a paixão pelos times do coração. Surgidas entre as décadas de 1960 e 1970, elas foram criadas para formalizar e intensificar o apoio aos times, oferecendo uma estrutura que vai além da simples presença nas arquibancadas. O antropólogo Luiz Henrique de Toledo, em seu livro Torcidas Organizadas de Futebol, define esses grupos como: “agrupamentos fluidos, dinâmicos e abertos” 

Em Pernambuco, a tradição das torcidas organizadas está fortemente presente nos três principais times do Estado — Clube Náutico Capibaribe, Sport Club do Recife e Santa Cruz Futebol Clube —, com as torcidas TJF – Náutico até Morrer, Torcida Jovem do Leão e Inferno Coral, respectivamente, sendo as mais populares de cada time. Esses grupos foram criadas com o intuito de apoiar incondicionalmente seus clubes, promovendo um ambiente engajado nos estádios, mas também fora deles.  

Renato Major, membro da Torcida Jovem do Leão, afirma: “A torcida organizada é pertencimento, é amizade, é família, mesmo. É estar onde, no meu caso, o Sport for. Não só no Estado, mas em todo o Brasil”. Com 29 anos de história, a Torcida Jovem do Leão é a mais nova entre as principais de Pernambuco.  

Reprodução: @bancada1905- Roberto Guimarães 

No entanto, a realidade enfrentada pelas torcidas organizadas em Pernambuco não é isenta de desafios. A escalada da violência, do vandalismo e dos confrontos entre torcedores dos três times pernambucanos pela Região Metropolitana do Recife (RMR) e até fora do Estado levou a uma crescente criminalização. “Muitos dos nossos torcedores vêm de realidades difíceis, de periferias onde a violência já é parte do dia a dia. Ainda mais pelo Santa Cruz ser considerado o time do povo”, disse Paulo Henrique, diretor da sede da Explosão Inferno Coral.  

Reprodução: @amoracamisa- Bela Azoubel

Nos últimos anos, a mídia tem ampliado uma narrativa negativa sobre as torcidas organizadas, frequentemente associando-as ao crime e à violência. Esse estigma obscurece o verdadeiro espírito que essas torcidas representam, que é, em sua essência, uma manifestação de amor.  

“Não repercute as ações que fazemos porque não vende. O que vende na mídia é a violência, dizer que nas torcidas organizadas só tem marginais. Temos reuniões com o objetivo de inibir a violência junto a autoridades de órgãos públicos”, destaca Phelipe Silva, conhecido como Fox, diretor de Marketing e Comunicação e membro da TJF – Náutico até morrer.  

Reprodução: @amoracamisa- Bela Azoubel

Fox ressalta que, embora existam casos de violência, a maioria dos torcedores está envolvida pelo puro amor ao clube e se dedica à iniciativas positivas para a comunidade. Ele enfatiza que a imagem negativa transmitida pela mídia não representa a realidade dessas torcidas.  

Além da visão retratada na mídia, os torcedores vêm enfrentando uma série de restrições que têm limitado a expressão de sua paixão nos últimos anos. O Tribunal de Justiça de Pernambuco determinou o fim das atividades de várias torcidas organizadas e a extinção de seus CNPJs.  

Adicionalmente, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) baniu a entrada de faixas, bandeiras e outros adereços que representem torcidas, enquanto a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco proibiu o uso de instrumentos musicais e outros itens que poderiam potencializar a atmosfera festiva nos estádios.

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