Casais com mulheres LGBTs contam seus processos de autodescoberta
Amar em suas mais diversas formas é um ato de coragem, especialmente em um mundo onde o preconceito ainda tenta impor limites ao que deveria ser livre por natureza. Casais LGBTQIAPN+ compartilham suas histórias de autodescoberta, mostrando que a luta por amor e respeito é também a luta pela própria existência.
Luiza Costa, mulher cis bissexual de 22 anos, e Charles Araújo, homem trans bissexual de 24 anos, se conheceram na primeira semana do curso de Design. Ambos descrevem suas jornadas de aceitação pessoal como desafiadoras, mas enriquecedoras. “Sempre soube que era bissexual, mas só assumi para mim aos 18 anos e esperei até os 21 para expressar minha sexualidade publicamente”, relata Luiza. Charles também enfrentou obstáculos, reconhecendo sua identidade LGBTQIAPN+ no ensino médio, mas adiando sua transição até encontrar o momento certo.
A resistência da comunidade LGBTQIAPN+ tem raízes profundas. A Revolta de Stonewall, em 1969, foi um marco histórico contra as violentas batidas policiais nos bares frequentados por pessoas LGBTQIA+. Um ano após o evento, Nova York sediou a primeira Parada do Orgulho Gay, dando início a uma era de mobilização global.
No Brasil, avanços importantes ocorreram apenas décadas depois, como a retirada da homossexualidade do catálogo de doenças pelo Conselho Federal de Medicina em 1985 e pela OMS em 1990. A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo só aconteceu em 2011, uma década após a Holanda ter liderado esse movimento.
Apesar das conquistas, desafios persistem. Dados de 2024 apontam mais de 69 mil violações de direitos humanos contra a população LGBTQIA+ no Brasil. Para Luiza Costa, a maior carência é por direitos básicos: “Queremos ser vistos como pessoas, apenas pessoas”, afirma.
Apesar dos desafios, avanços são celebrados, como o Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBT e a Casa de Acolhimento Roberta Nascimento, que oferece suporte a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Serviços como o Ambulatório LGBT Patrícia Gomes também são fundamentais, enquanto denúncias de LGBTfobia podem ser feitas pelo Disque 100 ou no site Conecta Recife.
Ao compartilhar suas histórias, esses casais destacam o poder do amor e da resiliência em um cenário de luta constante por reconhecimento e igualdade.
Indiara Aragão, deminão-binária bissexual de 26 anos, e Ciel Lima, lésbico não-binário de 24 anos, encontraram o amor por meio de um aplicativo de relacionamentos. Ambos passaram por jornadas de autodescoberta que marcaram suas vidas. “Desde criança, eu repudiava a ideia de ser uma menina e já tinha interesse por garotas, mas só me aceitei depois dos 20 anos”, conta Ciel. Indiara reconheceu sua bissexualidade ao se apaixonar pela primeira vez. Após três anos juntos, o casal está noivo, ciente de que sua união é resultado das muitas lutas enfrentadas pela comunidade LGBTQIAPN+.
Embora a pluralidade seja uma das riquezas da comunidade LGBTQIAPN+, ela também pode gerar conflitos internos. Indiara e Ciel relatam um episódio de invisibilização durante uma Parada do Orgulho, quando foram questionados com desdém sobre a bandeira lésbica que carregavam. “Foi desconfortável perceber que mesmo dentro da comunidade ainda há falta de compreensão e empatia”, lamenta Ciel.
Explicando…
Demissexual
Pessoa cuja atração sexual depende de forte vínculo emocional, não limitada a gêneros específicos.
Não-binário
Indivíduos que não se identificam exclusivamente como homem ou mulher, podendo transitar entre gêneros ou não pertencer a nenhum.
Lésbica não-binária
Refere-se a pessoas que não se veem como mulheres em sua totalidade, mas que ainda se identificam com a experiência lésbica.