Ozempic e o Padrão de Magreza nas Redes: A Estética que Está Viralizando 

Um estudo conduzido em 2024 pelo psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo, revelou que a simples interação de 8 minutos no TikTok pode afetar a autoestima de uma mulher. O aplicativo, como outras redes sociais, impulsiona novas “trends” de beleza e estética, impactando milhões de usuários diariamente.

Além do TikTok, o Instagram também contribui para essa pressão estética, com filtros que eliminam imperfeições faciais e criam uma versão idealizada de quem se expõe na plataforma. Duda Nienow, influenciadora de 22 anos, fala abertamente sobre a pressão gerada pelas redes sociais.  

“Obviamente tem dias que não me sinto bonita, mas na maioria dos outros dias eu não ligo de aparecer sem filtro ou sem maquiagem, porque na minha cabeça eu sou bonita e ninguém vai me fazer pensar o contrário. Mas a real é que se eu não me achar bonita, ninguém vai! E isso vai muito além de beleza exterior, tem tudo a ver com como a gente se sente por dentro também”, relata.

Desde 2023, uma tendência tem se destacado: a magreza extrema, algo que muitas influenciadoras começaram a adotar, gerando um retorno ao culto ao corpo magro, um padrão de beleza antigo. Esse fenômeno reflete uma obsessão que remonta ao início dos anos 2000, quando modelos e atrizes magras eram idolatradas e até mesmo desfiles como o Victoria’s Secret Fashion Show perpetuavam esse ideal. As jovens telespectadoras, muitas vezes influenciadas por essas imagens, tentavam imitar tais padrões, com graves consequências para a saúde. 

Recentemente, o uso de medicamentos como o Ozempic, originalmente desenvolvido para o tratamento de diabetes tipo 2, foi adotado por muitos na busca por emagrecimento rápido. A substância semaglutida, além de seu efeito hipoglicemiante, tem mostrado resultados eficazes na perda de peso, mas também é acompanhada de efeitos adversos, como náuseas e diarreia.  

A nutricionista Carol Escobar alerta que o uso indiscriminado do medicamento para fins estéticos pode ter implicações graves, como deficiências nutricionais e impactos na saúde gastrointestinal. “Para otimizar os resultados estéticos durante o uso de Ozempic, recomenda-se uma abordagem holística que inclua uma dieta balanceada e exercício físico regular. Isso pode ajudar a manter a massa muscular e melhorar a composição corporal. No entanto, é importante monitorar a nutrição geral dos pacientes, especialmente se houver perda de peso significativa”, explica. 

O aumento no consumo do Ozempic foi tão significativo que a fabricante, a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, superou a gigante de luxo europeia LVMH em valor de mercado em setembro de 2023. Embora o medicamento tenha ganhado notoriedade, especialistas ressaltam que sua eficácia deve ser acompanhada por uma abordagem equilibrada, incluindo dieta e exercícios físicos, para evitar danos à saúde. 

NOSTALGIA ESTÉTICA – O renascimento do padrão “tamanho zero”, que remete à valorização extrema da magreza, é alimentado por uma nostalgia da estética dos anos 2000, popularizada por celebridades como as modelos do desfile da Victoria’s Secret e as Kardashians. Kim Kardashian, por exemplo, gerou grande repercussão ao emagrecer 7 quilos em 3 semanas para vestir um icônico vestido de Marilyn Monroe no Met Gala de 2022. 

Contudo, a busca incessante por esse padrão pode ser prejudicial. Duda Nienow, por exemplo, acredita que é essencial que suas marcas e seguidores gostem dela pelo que ela é, e não pela imagem imposta pelas redes sociais. “Eu acredito que os meus seguidores e marcas têm que gostar do meu conteúdo ou querer trabalhar comigo pelo que eu sou. Uma marca que quer mudar a minha aparência, não é uma marca que eu gostaria de trabalhar!”, afirma Duda sobre a pressão para adotar padrões estéticos ou se submeter a procedimentos. 

Essa pressão estética tem efeitos preocupantes para a nova geração, especialmente entre jovens que se comparam a corpos muitas vezes manipulados digitalmente. Isso pode levar a dietas perigosas e até ao uso indiscriminado de medicamentos sem a devida orientação profissional, gerando riscos à saúde física e psicológica. 

A estudante de direito Luana Cassiano compartilha sua experiência com o Ozempic, dizendo que, apesar de ter emagrecido consideravelmente, sentiu-se fisicamente fraca e psicologicamente obcecada pela perda de peso.  

“Para quem tem obesidade é um tratamento muito eficaz, mas no meu caso eu não chegava nem perto de ser obesa. Eu estava ali, ainda no início do sobrepeso, e mesmo assim a nutróloga me receitou e de fato eu emagreci muito, mas em contrapartida, eu me sentia muito doente o tempo inteiro, uma aparência realmente cansada, enjoada, doente mesmo. Acho que a pior mudança negativa não se trata nem da estética, eu acho que mexe muito com seu psicológico, você fica obcecada por uma magreza rápida”, explica. 

Uma pesquisa da Universidade de Boston publicada em 2024 apontou uma correlação entre o tempo gasto nas redes sociais, o consumo de imagens de celebridades e modelos, e o aumento do desejo por procedimentos estéticos. Esse ciclo vicioso pode levar a uma aceitação ainda maior de práticas prejudiciais à saúde e ao bem-estar. 

Apesar do movimento “body positive”, que visa a aceitação do corpo em todas as formas e tamanhos, a indústria da moda e as redes sociais continuam a promover padrões de beleza pouco realistas, alimentando inseguranças e expectativas prejudiciais. O retorno ao culto da magreza nas plataformas digitais é um reflexo claro de como a pressão estética continua a impactar as gerações atuais, exigindo um cuidado maior com a saúde física e emocional dos indivíduos. 

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