Os memes estão em toda parte. O que começou como piadas visuais nos cantos da internet se tornou uma linguagem própria, capaz de expressar sentimentos, compartilhar ideias e até debater questões sérias. Essas combinações de imagens, textos curtos e vídeos ganharam um papel central na comunicação digital, especialmente entre os jovens, que os utilizam como forma rápida e eficaz de se conectar e se expressar.
É possível afirmar que boa parte da população consome memes. Mais do que diversão, os memes oferecem uma forma simplificada de traduzir situações e emoções complexas, como o conhecido meme do “macaco batendo prato”, que comunica frustração de forma universal e instantânea.
Para a doutoranda em Literatura e Cultura Ana Gabriella Aires, os memes vão além da linguagem e podem ser compreendidos como um gênero textual. Inspirando-se em estudiosos como Antônio Marcuschi e Bakhtin, Gabriella explica que os memes possuem estruturas relativamente estáveis, mas que se adaptam ao contexto. “Embora sejam mutáveis, mantêm características como o uso de humor, ironia e a repetição de formatos”, afirma.
Essa versatilidade também os torna ferramentas poderosas para discutir temas sociais e políticos. Uma pesquisa aponta que 73% das pessoas já souberam de notícias políticas por meio de memes. Durante campanhas eleitorais, por exemplo, os memes são amplamente usados para informar e engajar, muitas vezes mesclando humor e crítica.
A efemeridade, porém, define a cultura dos memes. A velocidade com que surgem e desaparecem é impressionante. Adelar Konrad, 20 anos, administrador da página Acervy de Memes, reflete sobre essa constante renovação. Desde 2020, quando começou a gerenciar sua página, ele percebeu mudanças significativas nos gostos do público. “Antes a gente tinha Gretchen e Inês Brasil; hoje são figuras como Raquel Brito e Camila Loures. Como administrador, preciso acompanhar essas mudanças para manter os seguidores engajados”, comenta.
Essa rapidez também reflete o comportamento dos jovens, que estão sempre em busca de novidades. A troca de memes se tornou uma parte essencial das interações sociais, criando uma sensação de pertencimento e conexão. Ao compartilhar um meme, jovens não apenas fazem piadas, mas reforçam laços e demonstram que estão atentos às tendências.
MARCAS – A influência dos memes não passou despercebida pelas marcas. Muitas empresas, como a Netflix, utilizam essa linguagem em suas campanhas publicitárias, apostando em referências populares para engajar o público. Um exemplo foi o uso de Inês Brasil para promover a série Orange Is The New Black. Essa estratégia pode humanizar as marcas, mas exige autenticidade; caso contrário, a tentativa de parecer descolada pode afastar consumidores.
Os memes também têm impacto profundo na maneira como os jovens consomem informações. Por serem visuais e rápidos, eles moldam preferências por conteúdos acessíveis e divertidos. Cerca de 46% das pessoas compartilham memes que traduzem problemas pessoais, destacando seu papel como reflexo das experiências cotidianas. Em vez de longos textos, basta um meme para expressar estresse, cansaço ou alegria.
Embora efêmeros, os memes deixaram de ser apenas entretenimento e se consolidaram como uma linguagem cultural. Eles ajudam a traduzir emoções, criar conexões e promover discussões de maneira leve, mas significativa. Para quem ainda não explora esse universo, talvez seja hora de começar. Afinal, rir também é uma forma de se expressar.