A indústria de conteúdo adulto tem passado por uma grande transformação nos últimos anos. O crescimento das plataformas digitais, que permitem aos criadores produzir e monetizar seus próprios conteúdos, tem atraído milhões de usuários e transformado a dinâmica entre produtores e consumidores dentro do universo da pornografia.
De acordo com a empresa Fenix International, em 2023, a plataforma OnlyFans registrou a marca de 305 milhões de contas criadas, contando com 4,1 milhões de criadores de conteúdo ativos.
No Brasil, o Privacy, plataforma nacional de conteúdo digital por assinatura fundada em 2020, acumulou mais de 24 milhões de usuários mensais e 150 mil produtores de conteúdo.
Dentre os criadores, conhecemos Victor Santos, trabalhador autônomo de 23 anos que enxergou no universo dos conteúdos adultos a oportunidade de juntar uma renda extra.
A motivação de Victor reflete uma realidade comum para muitos criadores de conteúdo adulto: a busca por uma forma mais flexível de trabalho. Indo além da exposição e da sexualidade, criar conteúdo erótico também pode ser uma maneira de ter mais controle sobre a própria rotina, especialmente em um cenário econômico instável.
“Mesmo com os freelas, sempre ficava apertado no final do mês. Descobri as plataformas por acaso e pensei: ‘Por que não?’. Vi uma oportunidade de aumentar minha grana sem precisar de uma jornada dupla de emprego”, afirmou.
Foi nessa liberdade de rotina e produção que Luiza Santos, universitária de 24 anos, decidiu iniciar lives na plataforma Câmera Privê, incentivada por sua ex noiva.
Ela explica que a plataforma permite uma interação direta e espontânea com o público, sem a necessidade de produzir conteúdos pré-gravados: “O Câmera Privê é ao vivo. Você fica online, algumas pessoas entram, conversam com você e, se houver interesse, vão para um chat.”
O ambiente digital permite uma proximidade entre criadores e consumidores, rompendo a barreira tradicional do pornô, em que o público era apenas espectador passivo. Com as lives e interações diretas, esses criadores têm a oportunidade de explorar a sexualidade e o prazer de forma mais dinâmica e personalizada.

No entanto, nem tudo é prazeroso no mundo dos criadores de conteúdo adulto. Apesar das mudanças que a indústria pornográfica vem passando, o preconceito em torno dessa profissão ainda é uma realidade cotidiana para quem decide seguir por esse caminho.
Na visão de muitos, o trabalho com pornografia ou conteúdo erótico ainda é visto de forma marginalizada, associado à imoralidade. Esse preconceito está enraizado em uma moralidade conservadora que ainda domina muitos aspectos da sociedade, tratando o sexo, especialmente o conteúdo pornográfico, como algo vergonhoso ou sujo.
Em entrevista ao Jornal Estadão, a sexóloga e youtuber Cátia Damasceno afirmou que “O problema da sexualidade do ser humano como um todo é o julgamento. Ele quer sempre julgar o que o outro faz. É preciso falar para desconstruir o tema e perceber que, na verdade, essa conversa traz benefícios além das práticas entre quatro paredes.”
A falta de entendimento sobre sexualidade e sobre o conteúdo gerado contribui para a manutenção de estereótipos. Ao mesmo tempo que o consumo de pornografia está em crescimento, a aceitação de quem a produz ainda é limitada, resultando em barreiras de monetização, preconceitos e discriminação social.