Festiva E Cheia De Cor: O Cenário Da Música Independente Em Pernambuco 

Festiva e cheia de cor, como o frevo; cheia de uma força e beleza quase sagrada, como o maracatu. É sabido, como o sol que guarda essas terras, que a cultura pernambucana é um ancoradouro de talentos: João Cabral de Melo Neto e seus severinos, na literatura; Cícero Dias, nas artes plásticas; Mestre Vitalino e suas cerâmicas; Chico Science, no mangue, e Cláudio Assis, nas lentes da sétima arte. 

Para onde quer que olhe, a arte sempre se fez presente na história do Recife e hoje, mais do que nunca, se encontram maestros em cada esquina. A busca pelo tão sonhado reconhecimento, por sua vez, acabou se ramificando em vários espaços: de diferentes ritmos musicais, rivalidades e, também, de muito apoio, coisa que só outros artistas da cena podem proporcionar.

É inevitável, Recife é cheia de talentos, em grupos, bandas, artistas pequenos, independentes ou grandes o suficiente para não caber nem no próprio estado. Temos gente nova chegando todo dia para mostrar o talento, sua arte e sua vivência. Mas, muitos desses, infelizmente, não chegam nem aos nossos fones de ouvido. Mas quem são? Com quem andam? O que fazem para se destacar nesse mar de gente talentosa?  

ZENDO E A MÚSICA

Na cidade de São Lourenço da Mata, RMR – região metropolitana de Recife, reside Zendo: cantor independente que, com seu tom de voz único, perpassa por diferentes estilos musicais, sendo eles pop, R&B, brega e brega funk.

Zendo tem 22 anos e começou na música em 2022, por sentir a necessidade de se expressar musicalmente. “Tenho muito para falar e as pessoas precisam ouvir”, relembra. Cantar em corais e grupos de escola fez com que a música se tornasse algo indispensável na vida do cantor, fazendo com que ele investisse seus esforços no mercado, já que, para ele, tentar não é perder.

Cantor Zendo, nos bastidores do Festival Transforma Pride 2024 – Marcus Vinicius/ O Berro

“A cena musical recifense geralmente não apoia os artistas independentes e esse apoio só vem quando precisam de uma cota, de alguém para preencher aquele espaço, para que o evento não seja malvisto”, relata.

Poucos festivais de música abrem cotas para artistas independentes, o que representa uma grande oportunidade para esses cantores apresentarem sua arte ao grande público e desenvolverem network com outros artistas. Mas, em muitos festivais, o espaço para novos nomes da cena musical é invalidado, dificultando ainda mais que novos artistas tenham oportunidade de crescer dentro do mercado.

Preparação para o Festival Transforma Pride 2024 – Marcus Vinicius/ O Berro

Segundo Zendo, essa falta de espaço acaba causando uma grande rivalidade entre esses artistas, que disputam espaço por vagas, oportunidades e qualquer tipo de relevância, o que acaba afastando e muitas vezes desmotivando esses novos nomes a se manter na cena.

“O cenário musical é difícil, não é todo mundo que consegue. Muitos amigos meus já desistiram, muita gente cheia de talento acabou largando tudo porque viu que não era para eles”, completa.

Mas, com tanta rivalidade e pouca oportunidade, como continuar fazendo música em um lugar que não valoriza, como deveria, a sua arte? Quando o apoio desses artistas não vem de festivais, produtores ou do público, causa uma grande desmotivação, levando à desistência de muitos.

Por isso, muitas vezes o apoio vem de dentro da própria bolha musical: artistas que estão há mais tempo no mercado apoiam novos nomes, fazem colaborações musicais e divulgam o trabalho de quem tem muito talento — ainda assim, são poucas as portas abertas.

Em 2020, a cantora Uana entra nesse cenário musical independente, sem apoio de gravadoras ou privilégios externos. Após 3 anos, em 2023, ganha o prêmio de Revelação no Women’s Music Event (WME) Awards. A trajetória da cantora, natural da cidade de Camaragibe, RMR, nos leva até 2024: ano em que lança seu primeiro álbum, participa de uma colaboração com o Multishow e participa do Rock In Rio, onde aumenta as oportunidades de sua carreira.

Isso possibilita, para que hoje Uana, ainda como cantora independente, possa apoiar e “amadrinhar” Zendo, oferecendo apoio e oportunidade que, apesar de não ser financeira, abre diversas portas para artistas que estão entrando no mercado.

“Eu acho que ter a chance de apoiar alguém tão talentoso que está começando no mercado é muito relevante para a minha carreira, mas muito mais para a dele. É uma chance que eu não tive antes, e que faz muita diferença. Acho que ter esse apoio, saber que alguém valoriza sua arte, faz você não desistir de um sonho tão importante”.

Festival Transforma Pride 2024 – Marcus Vinicius/ O Berro

Confira uma entrevista com o cantor Zendo:

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