Festiva e cheia de cor, como o frevo; cheia de uma força e beleza quase sagrada, como o maracatu. É sabido, como o sol que guarda essas terras, que a cultura pernambucana é um ancoradouro de talentos: João Cabral de Melo Neto e seus severinos, na literatura; Cícero Dias, nas artes plásticas; Mestre Vitalino e suas cerâmicas; Chico Science, no mangue, e Cláudio Assis, nas lentes da sétima arte.
Para onde quer que olhe, a arte sempre se fez presente na história do Recife e hoje, mais do que nunca, se encontram maestros em cada esquina. A busca pelo tão sonhado reconhecimento, por sua vez, acabou se ramificando em vários espaços: de diferentes ritmos musicais, rivalidades e, também, de muito apoio, coisa que só outros artistas da cena podem proporcionar.
É inevitável, Recife é cheia de talentos, em grupos, bandas, artistas pequenos, independentes ou grandes o suficiente para não caber nem no próprio estado. Temos gente nova chegando todo dia para mostrar o talento, sua arte e sua vivência. Mas, muitos desses, infelizmente, não chegam nem aos nossos fones de ouvido. Mas quem são? Com quem andam? O que fazem para se destacar nesse mar de gente talentosa?
ZENDO E A MÚSICA
Na cidade de São Lourenço da Mata, RMR – região metropolitana de Recife, reside Zendo: cantor independente que, com seu tom de voz único, perpassa por diferentes estilos musicais, sendo eles pop, R&B, brega e brega funk.
Zendo tem 22 anos e começou na música em 2022, por sentir a necessidade de se expressar musicalmente. “Tenho muito para falar e as pessoas precisam ouvir”, relembra. Cantar em corais e grupos de escola fez com que a música se tornasse algo indispensável na vida do cantor, fazendo com que ele investisse seus esforços no mercado, já que, para ele, tentar não é perder.

“A cena musical recifense geralmente não apoia os artistas independentes e esse apoio só vem quando precisam de uma cota, de alguém para preencher aquele espaço, para que o evento não seja malvisto”, relata.
Poucos festivais de música abrem cotas para artistas independentes, o que representa uma grande oportunidade para esses cantores apresentarem sua arte ao grande público e desenvolverem network com outros artistas. Mas, em muitos festivais, o espaço para novos nomes da cena musical é invalidado, dificultando ainda mais que novos artistas tenham oportunidade de crescer dentro do mercado.

Segundo Zendo, essa falta de espaço acaba causando uma grande rivalidade entre esses artistas, que disputam espaço por vagas, oportunidades e qualquer tipo de relevância, o que acaba afastando e muitas vezes desmotivando esses novos nomes a se manter na cena.
“O cenário musical é difícil, não é todo mundo que consegue. Muitos amigos meus já desistiram, muita gente cheia de talento acabou largando tudo porque viu que não era para eles”, completa.
Mas, com tanta rivalidade e pouca oportunidade, como continuar fazendo música em um lugar que não valoriza, como deveria, a sua arte? Quando o apoio desses artistas não vem de festivais, produtores ou do público, causa uma grande desmotivação, levando à desistência de muitos.
Por isso, muitas vezes o apoio vem de dentro da própria bolha musical: artistas que estão há mais tempo no mercado apoiam novos nomes, fazem colaborações musicais e divulgam o trabalho de quem tem muito talento — ainda assim, são poucas as portas abertas.
Em 2020, a cantora Uana entra nesse cenário musical independente, sem apoio de gravadoras ou privilégios externos. Após 3 anos, em 2023, ganha o prêmio de Revelação no Women’s Music Event (WME) Awards. A trajetória da cantora, natural da cidade de Camaragibe, RMR, nos leva até 2024: ano em que lança seu primeiro álbum, participa de uma colaboração com o Multishow e participa do Rock In Rio, onde aumenta as oportunidades de sua carreira.
Isso possibilita, para que hoje Uana, ainda como cantora independente, possa apoiar e “amadrinhar” Zendo, oferecendo apoio e oportunidade que, apesar de não ser financeira, abre diversas portas para artistas que estão entrando no mercado.
“Eu acho que ter a chance de apoiar alguém tão talentoso que está começando no mercado é muito relevante para a minha carreira, mas muito mais para a dele. É uma chance que eu não tive antes, e que faz muita diferença. Acho que ter esse apoio, saber que alguém valoriza sua arte, faz você não desistir de um sonho tão importante”.

Confira uma entrevista com o cantor Zendo: