Educação

Negro ou preto? Não há consenso, cabe bom senso

Apesar de parecer uma pergunta aparentemente simples, a resposta não é. Essa é uma questão divergente até entre as pessoas que as representam. Na verdade não há consenso e muito tem a ver com a visão de mundo e vivência de cada indivíduo. Então, quando houver intimidade, contexto ou necessidade para isso, é sempre adequado perguntar como a pessoa gosta de ser referida, além de pelo nome, é claro. Negra ou preta? Fica a critério, certo? Não esqueça.  

As pessoas pretas são maioria no Brasil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE sugere cinco opções para cor ou raça: branca, preta, parda, amarela e indígena. Julyanna Torres Silva Mendonça, 22, e Silvana Priscilla Ribeiro, 37, compõem os 56,10% da população brasileira que se autodeclaram pretas e pardas, segundo a mesma pesquisa.  

Para elas, a palavra “preta” é a mais aceitável. Segundo Julyanna Torres, “o termo “negro (a)” tem uma carga histórica extremamente pejorativa e negativa”. Já Silvana Ribeiro, mesmo preferindo ser denominada pelo vocábulo “preta”, acaba considerando a expressão “negro (a)” a mais correta diante do idioma português. 

Embora maioria, os números relacionados à população negra não são proporcionais se comparados com os da população branca em vários aspectos. Com poucas exceções, como os ingressos nas universidades públicas, sendo 50,3% de não brancos. Diferente de Julyanna Torres que financia o estudo particular do curso de Publicidade e Propaganda, em uma instituição perto de sua casa, no centro de Recife.

Como se não bastasse a histórica desigualdade racial, a Língua Portuguesa contém “diversas palavras de cunho racista e preconceituosas, que depreciam a imagem e reforçam estereótipos”, reconheceu a estudante universitária. O ideal é que sejam observadas para, então, eliminadas do nosso vocabulário de cada dia.

Provavelmente você já disse ou ouviu alguém dizer: “amanhã é dia de branco”, “criolo/negão”, “preto de alma branca”, “serviço de preto”, “da cor do pecado”, “cor de pele”, “meia tigela”, “nasceu com o pé na cozinha”. Enraizadas em nosso idioma, essas expressões causam descontentamento para a população preta.

“Machucam muito, pois não somos ligados a algo negativo, nós não somos essas expressões e seus significados”,

desabafa a ativista antirracista Julyanna. Enquanto Silvana as considera afronta e grosseria. 

Para o professor de Pós-graduação e Ciência da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e Mestrado Profissional em Letras da Universidade de Pernambuco (UPE), Benedito Bezerra, os termos racistas estão ligados a costumes e às relações entre a Casa Grande e a Senzala: pessoas brancas mandam e têm autoridade sobre pessoas pretas. E essa ideologia é perpetuada através dessas expressões, também.

Para o professor Benedito, debater insistentemente sobre o tema, em todas as esferas sociais, ainda é o melhor caminho para que seja conhecido por todos. E, usando a consciência individual e coletiva, as expressões racistas deixem de ser mencionadas de vez. “Justificam atitudes, decisões e movimentos no sentido de reverter essas formas de falar para desconstruir a desigualdade e o racismo na linguagem, bem como o racismo nas práticas sociais”, acrescenta.

É importante também nutrir empatia para com os indivíduos vítimas de racismo. Respeito e bom senso são fundamentais no processo de abandono desses termos e expressões. “Se para uma pessoa negra o termo ”denegrir” é ofensivo, então não use”, recomenda o professor. “Existem outros recursos na nossa Língua que são capazes de expressar nossas ideias”, finaliza Benedito.  

Com ajuda da professora de Português Jocenilda das Neves Lima, 39, esses termos e expressões ganham conceitos no infográfico interativo abaixo. Aprenda o poder semântico que essas palavras têm de ferir como espada as pessoas que se assumem como pretas no Brasil. Vamos nessa?

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