Escolha uma Página

Tô ficando velha: minha infância é o novo retrô

Cultura

Podemos dizer sem medo de errar que a cultura, de forma geral, tem a tendência de resgatar aspectos influentes de outras décadas para uma renovação do que está na moda. As décadas do século 20, como as de  60, 70, 80 e 90 vira e mexe são resgatadas e referenciadas amplamente na exploradas no mundo da cultura pop. 

Os anos 80 e sua estética extremamente duvidosa, especialmente no que se refere aos cabelos, por exemplo, voltaram com tudo em sucessos como a exemplo de Stranger Things, da Netflix e nas músicas cantadas por The Weekend, no álbum After hours.

A novidade aqui é que chegou a vez do Século 21 – aquele que no cinema e na cultura pop em geral era o “futuro” se tornar retrô. Os anos 2000 estão de volta e as referências estão na música, na moda, no cinema e até neste Berro, que escolheu os Y2K como ponto de partida para as pautas desta edição.

Até a tecnologia – que normalmente olha para a frente – se rendeu à tendência. A Samsung, por exemplo, já criou smartphones dobráveis, resgatando o apelo dos celulares “abre e fecha”, também conhecidos como flips, uma febre nos anos 2000.

Não seria diferente com os clipes musicais, principalmente do mundo pop, que muitas vezes são movidos por tendências estéticas, ou seja, pelo o que está na moda. O resgate do começo do século está em vem sendo feito no mundo da música em diversos aspectos, entre eles estão os efeitos sonoros, as roupas, a maquiagem e até mesmo a tecnologia usada na produção de conteúdo.

Uma das características que diferencia o resgate da cultura pop dos anos 2000 das décadas anteriores é que a estética Y2K soma o que era popular em várias outras décadas. É o que explica Henrique Muniz, que é diretor de marketing e produtor cultural há mais de 20 anos. “O resgate estético e cultural a partir dos anos 00 tem como principal característica a soma de referências das décadas anteriores, sendo comum observarmos fortes elementos especialmente das décadas de 70, 80, 90. A linguagem passa a ser plural e multicultural, abandonando o caráter purista dos estilos presentes nas décadas anteriores”, afirma.

Muniz atualmente tem usado a estética Y2K nos seus trabalhos  e nos disse o motivo “É sempre preciso olhar para trás para seguir em frente. Beber nas fontes de cada década é fundamental como base para construir algo contemporâneo, que jamais parece datado, e sim a soma desses elementos adaptados para os dias de hoje que apontam para o amanhã”, explica.

No pop norte americano, Ariana Grande usa o , em seu clipe “Thank you, next” para fazer , faz essas referências a filmes que foram sucessos na década de 00, como “Meninas Malvadas” e “De Repente 30”. Iggy Azalea também resgata um queridinho da época, “As patricinhas de Beverly Hills”, no seu clipe “Fancy”. 

O kpop é um grande exemplo de como essa tendência vem dominando a indústria musical. Grandes nomes do gênero como Twice, Sunmi, Key (Shinee), Girls Generations e New Jeans mostram essa estética em seus clipes mais recentes.

Luigi Gomes, 22 anos, é estudante de design e explica que as memórias da infância o ajudam a se conectar com as tendências atuais. “Então, a gente vem vivendo um revival de épocas na moda e na música né? Começando lá em 2019/2020 com os anos 80 e a estética retrô até chegar na trend Y2K nos dias de hoje. Ver essa estética voltando é nostálgico demais. Como uma criança criada no Disney Channel, eu comecei a consumir música por meio das Disney stars dos anos 2000, então, ver os idols que acompanho hoje em dia reproduzirem essa mesma estética é uma nostalgia muito boa”, diz.

No mais recente lançamento do Twice por exemplo, o clipe da música Talk That Talk traz bem essa referência dos anos 2000. Aqui encontramos uma paleta de cores que abusa do colorido e do brilho. O clipe também faz referência a tecnologias da época, como games, celulares e câmeras. Até a própria capa do álbum é em um modelo de colagem que lembra bastante o livro “Burn Book” de Meninas Malvadas.

Giovanna Carvalho, 20 anos, é fã do Twice e também diz que a lembrança da infância é o que torna o resgate dos anos 2000 tão apelativo. “A estética Y2K dos clipes mais recentes vem me conquistando por remeter a minha infância, me causa um sentimento de nostalgia. O clipe de Talk That Talk  foi o que mais me chamou atenção recentemente por lembrar muito a estética dos anos 2000 que eu vivi”, relata.

No Brasil, não é diferente. A cantora Valesca Popozuda recentemente lançou o single em parceria com Os Hawaianos, “Entrega tudo”, que resgata elementos do funk dos anos 2000. Nesse clipe, nada é à toa. As roupas usadas pela cantora, a maquiagem que abusa do brilho labial e o figurino colorido dos dançarinos, todos remetem a um Brasil de 20, 15 anos atrás.

O clipe até brinca com uma imagem da Valesca dos anos 2000 colada em um poste enquanto ela caminha na rua exibindo essa renovação da estética Y2K.  A música também homenageia grandes sucessos da cantora como “beijinho no ombro” e “Agora eu to solteira”. Impossível não sentir nostalgia quando se está escutando.

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *