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Temos a Inteligência Artificial?

Tecnologia

Por: Antônio Gois

Somos a inteligência artificial? (Foto: Reprodução / Pexels)

“Podem as máquinas pensar?”, o questionamento de Alan Turing, cientista considerado o pai da computação, mudou o mundo no século 20. Em curto prazo, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Turing quebrou códigos secretos nazistas e liderou a ofensiva tecnológica dos Aliados para derrubar o Eixo.

Em longo prazo, Turing mudou o mundo.

A informação nunca foi tratada do mesmo jeito depois do boom tecnológico do pós-segunda guerra. O desenvolvimento de aparelhos cada vez mais práticos e velozes, juntamente à uma rede que conecta todas as máquinas do mundo, a World Wide Web (Rede Mundial de Computadores), permitiu que fossem criados novos modos de comunicação, o que tange todas as áreas da nossa vida.

Tudo é computador. Tudo é máquina. Se brincar até nós somos máquinas. Hoje, desde a comida que comemos até as roupas que usamos têm sua produção ligada a computadores ou algum tipo de tecnologia digital . Sistemas que produzem, vendem, distribuem e entregam já são nossos queridinhos há algum tempo. 

Porém, aqui se faz novamente o questionamento de Turing: “Podem as máquinas pensar?”. A maioria desses computadores são regidos por regras – os tais algoritmos – em que os seres humanos, ainda são protagonistas por serem os autores dos tais conjuntos de instruções que os computadores seguem para executar uma tarefa. Neste sentido, a  “liberdade” de uma máquina tomar suas próprias decisões ainda depende da nossa vontade e dos nossos ensinamentos.

Desde a fábrica que produz a calça rasgada da moda até os artistas que utilizam computadores para criar obras fantásticas, o ser humano ainda se apresenta como o “professor”. Ainda somos “chefes” da máquina, ao ponto que, se não fosse por nós, o computador não faria nada sozinho.

Mas, isto também está mudando. O Machine Learning (aprendizagem de máquinas, em uma tradução livre), já está mais presente do que percebemos. Seja nos captchas, meio que torna possível as votações on-line, ou nas músicas que ouvimos, as inteligências artificiais estão na nossa vida até onde não fazemos ideia.

“A Inteligência Artificial (IA) é uma área multidisciplinar. A princípio está muito ligada com a parte da computação, mas envolve conceitos e interações de diversas outras áreas, como a filosofia, psicologia, sociologia, matemática e estatística. O objetivo da IA é fazer com que o computador possa realizar tarefas que antes eram prioritariamente realizadas por seres humanos. A inteligência artificial tenta mimetizar processos que inicialmente eram exclusivos de pessoas”, explica o professor Anthony Lins, doutor em Biotecnologia e mestre em Engenharia da Computação.

Machine Learning, já comentado nesta reportagem, não é nada mais nada menos que matemática. “O grande exemplo que se tem como IA hoje é o segmento da aprendizagem de máquinas. Você adota um modelo matemático que vai sendo ajustado de acordo com conjuntos de dados”, contou o prof. Anthony. 

Votação do Big Brother Brasil fazendo uso do capchta (Reprodução GShow)

Um exemplo popular disso é nas votações do programa Big Brother Brasil. Ao escolher as imagens correspondentes a notas musicais ou a um passarinho, provamos que somos humanos e não robôs. Ali estamos fazendo o Teste de Turing. Em outra mecânica, mas com a mesma essência.

Esse tipo de teste aprende com seus usuários. Nas  primeiras respostas, a inteligência por trás do gabarito não sabe exatamente o que é uma nota musical ou um passarinho. Ao passo que respondemos e clicamos nos ícones certos, o robô aprende que o desenho da clave é uma nota musical e que a figura com asas é um passarinho.

Usar o exemplo do captcha para explicar como funciona uma tecnologia tão refinada quanto a IA parece até um desperdício, mas o princípio é o mesmo usado para fazer  recomendação de roupas, em sites como a Shein, vídeos, em mídias como o Youtube e livros, em lojas como a Amazon.

“O serviço de compras pode fazer uso de um modelo matemático que representa o seu perfil, baseado em outras compras realizadas por outras pessoas que podem ter perfis semelhantes ao seu. Gênero, idade, localização, compras anteriores. Inteligências Artificiais podem ter modelos de aprendizagem”, afirma o professor.

Pode parecer muito prático, mas com um pouco de reflexão se pode perceber o quanto essas recomendações podem ser limitadoras. A depender da IA, acabamos ouvindo as mesmas músicas, vendo os mesmos vídeos, comprando as mesmas roupas e lendo os mesmos autores. Ao ponto que isso não nos traz mudança alguma, e permanecemos na mesma bolha.

Além disso, no mundo profissional,, as inteligências artificais podem acabar se tornando uma pedra em nossos sapatos em um futuro breve. Em um exemplo prático, o site Will Robots Take My Job mostra as chances de uma máquina “tomar” seu emprego, baseado na profissão. 

Para o jornalismo, o risco ainda é baixo. E para você?

CONSCIÊNCIA HUMANA?

Há muitos anos, pesquisadores da mente humana tentam reproduzir a consciência de pessoas em máquinas. A “senciência”, ou seja, a capacidade de vivenciar um fato e desenvolver sentimentos a respeito desta experiência, é tratada como o “Santo Graal” dos estudos sobre inteligência artificial. Os questionamentos sobre um corpo mecânico ter noção de si mesmo e sentir a necessidade de se autopreservar nunca foram tão intensos. 

Neste ano, foi publicado um estudo na revista Neuron em que Brett Kagan, cientista da empresa Cortical Labs, afirma ter criado um cérebro sensível em laboratório. Segundo ele, o cérebro é capaz de receber informações de uma fonte externa, processá-las e responder em tempo real.

Mini cérebro criado em laboratório (Foto: Divulgação/Cortical Labs)   

No caso, a fonte externa seria o videogame Pong, no qual dois jogadores disputam quem não deixa a bola passar por barrinhas virtuais. O “mini cérebro” aprendeu a jogar em cinco minutos, se recalibrando ao ponto em que novas trajetórias eram feitas pela bolinha do jogo.

Cientistas reconheceram que, embora “empolgante”, o experimento ainda estaria longe da tão buscada senciência.

Mas o questionamento fica: a Inteligência Artificial pode ter uma reprodução da consciência humana?

O Doutor em Filosofia Gerson Arruda responde que não. “Do ponto de vista da filosofia, há uma divisão entre filósofos que de fato acreditam e os que não. Eu tenho a opinião de que é impossível a reprodução de consciência do mundo científico, pelo menos, de uma consciência semelhante à nossa. A não ser que seja uma consciência diferente da nossa, portanto, não seria consciência”, explica. 

“Acredito que não há possibilidade de reprodução de consciência, muito menos reprodução ou manutenção de autoconsciência. Acho que não é possível criar um cérebro artificial”, explica. 

E finaliza: “é possível fazer mapeamentos cerebrais e fazer reproduções deste mapeamento em objetos artificiais. É possível reproduzir uma sinapse eletromagnética do meu cérebro num aparelho artificial, mas isso não denotaria em uma consciência, em uma mente”.

ARTE

Em 1994, Chico Science cantava que “computadores fazem arte e artistas fazem dinheiro”. Hoje, décadas depois do “Da Lama ao Caos”, álbum do Nação Zumbi, artistas já desenvolvem obras de arte com ajuda de Inteligência Artificial, como a ferramenta Midjourney.

Imagem criada com a ferramenta Midjourney

Essa é uma IA que gera ilustrações criativas baseadas em ordens de usuários. O usuário cita palavras-chave e, com a interpretação da Inteligência Artificial, surgem imagens criadas pela ferramenta.  

Mas, sozinha, a IA serviria como um artista em ascensão?

“Nós temos elementos humanos que interferem diretamente no modo como nós criamos e olhamos para uma obra de arte. Elas [inteligências artificiais] podem desempenhar algum tipo de criação. 

Isso é possível, mas não é uma criação humana no sentido de cultura. Eles não criam cultura no mesmo sentido que nós criamos e a razão disso se dá, exatamente, porque existem elementos que são próprios dos seres humanos, como elementos biológicos, por exemplo, que não estão presentes em máquinas artificiais”, opina o professor Gerson.

Já para o professor Anthony, é possível a criação de arte, como conhecemos, por uma inteligência artificial. “Hoje a gente tem modelos de aprendizagem, modelos de extração de características que podem, sim, aliada a outras questões computacionais, criar arte”, explica.

O método da criação dessas obras também leva em conta a capacidade de aprendizagem das máquinas. “Foram preparados modelos de aprendizagem na qual os dados de entrada desses modelos seriam composições musicais. Foram percebidos padrões nessas composições musicais que a IA, ao longo de seu processo de aprendizagem, pode entregar resultados como novos modelos, novas músicas e novas obras de arte”, define Anthony.

Se um dia nossa criatividade poderá ser substituída por uma máquina, ainda não sabemos. Nem nós e nem as inteligências artificiais podem prever este cenário. 

Por enquanto, para o bem ou para o mal, podemos nos contentar em mandar nas máquinas e não o contrário… Ou será que o contrário já acontece?

Descubra como criar sua própria arte com Inteligência Artificial abaixo.

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